Tive que deixar a mãe dos meus três filhos. Há muitos anos que me tenho traído para conseguir dar algum conforto a esta mulher. Sou um tipo às direitas, não consigo corromper-me, baixar o meu nível de decência, deixar os meus valores universais e a utopia, e, acima de tudo, não consigo mais viver fora de mim e, por isso, tive que deixar a mãe deles.
Os meus filhos não entendem o que se passa, olham-me com os seus pequenos e frágeis olhos com desdém, lembrando-me que eu falhei. São tão pequenos... Perdi o controlo, estou sózinho e sinto-me desprotegido e abandonado pelos ideiais e pela paixão de viver.
Gostaria que ao menos eles, os meus filhos, caminhassem comigo lado a lado. Assim, eu seria eterno e eles felizes.
Há três meses que não lhe vinham as regras. Sentia o seu corpo inchado, volumoso, corrompido pela paixão. Não sabia o que sentir, embora soubesse que devia estar feliz. Não sabia como era ou quem era o ser que trazia dentro dela, que dependia de si e que iria fazer dela o que ela nunca teve. Seguiram-se seis meses de dores, de noites mal passadas, de solidão, até que um dia o seu corpo a virou-se contra si própria, expelindo o ser que tinha alimentado, carregado durante nove meses. Era o fim e o seu corpo oferecia-lhe mais dor, para que um bébé que ela não sabia quem era ou como era, nascesse. Quando viu o seu bébé enrugado, feio, pequeno e frágil, pensou como poderia vir a gostar de uma coisa assim tão feia.
domingo, agosto 26, 2007
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