segunda-feira, março 27, 2006

a razão é o sentir

Desenha-se uma linha transparente sempre que um castelo de areia cai.

Por vezes, cai-se com as ondas e fica-se em pó.

Ouve-se remoínhos e cose-se novelos suaves de silêncio com pitadas de sal.

Sorri-se doce e embriagadamente constelações etéreas e doces.

Sempre o sentir!

Desenha-se sempre um círculo quando se é esfera.

Procura-se um grão de areia num poço profundo.

Ilumina-se o Sol...

Já me disseram: sempre o sentir!

quinta-feira, março 23, 2006

Porquê parar?

O leão que era dente rugiu à volta do nariz do vizinho do 2º direito.
O nariz, que era sisudo e sério, respondeu com a arrogância do seu fulano, tendo expirado com força o ar condicionado ao seu corpo.

Nisto, a vizinha do 312 com o balanço das ancas no compasso de entrada desconcertou o nariz sisudo e sério do vizinho do 2º direito. Este começou a embalar-se no ritmo do farejo perdendo solenemente o anterior estado de seriedade.

Eis que os dois deparam-se com a vizinha do 1º esquerdo embrulhada no seu rafeiro, aquele que todas as manhãs deixa a entrada do prédio com presentes de boas-vindas! Ao cruzarem-se os olhos de todos rosnam, as ancas da vizinha do 312 páram a tempo, o nariz ritmado do vizinho do 2º direito encolhe zangado e a boca da vizinha do 1º esquerdo sorri em amarelo.

O filho dos vizinhos do R/C, guiado pela bola de futebol, tropeça nos dois vizinhos que estavam estáticos na entrada do prédio e marca golo no rafeiro da vizinha do 1º esquerdo. Os vizinhos estáticos em euforia gritaram: gooooolo! O rafeiro deu o seu último latido que foi ouvido somente pelo tísico ouvido da sua dona...

O dente que era leão, após ter repousado estes segundos, sentiu de novo a sua força locomotora... Partiu!

quinta-feira, março 16, 2006

o comboio educacional-emocional

Com o pulso fraco mergulhou dentro de uma nuvem, condensando até à alma o seu vapor. (pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)
Trilhava montanhas e planícies unindo as duas formas numa só linha e com estas duas dimensões ajudava amores e corações a encontrarem-se nas partidas e chegadas.
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)

O 1º Viajante, em poucos segundos seguia viagem. Os seus olhos embrulhados em jornais, pareciam querer mostrar o que era ser actual.
O 2º viajante oferecia à paisagem os seus olhos, queria mostrar a poesia da contemplação.
O 3ºviajante esboçava os beiços macambúzios para os outros dois viajantes. Ele sim é que era sério!
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)

1º Viajante: "já viram, caros viajantes, o governo quer aumentar os impostos!!"
2º Viajante:"mas os impostos são só dinheiro... já viu a paisagem? as cores mudam..."
3º Viajante: "se aumentarem os impostos é fácil, gasta-se menos!"
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)

De repente o comboio entra num túnel escuro e longo e o silêncio tenso da carruagem transformou-se numa parafernália de cores brilhantes, tendo mesmo sido descrito por outros viajantes uma nuvem que debitava raios de luz, iguais aos relâmpagos da atmosfera. Findo o túnel longo e escuro, já não se encontravam nos seus lugares os três viajantes.
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)

Um viajante mais curioso aproximou-se dos lugares onde os três viajantes haviam sido vistos e eis que o seu olhar alcançou um pequeno viajante: "Olá pequeno viajante! Tu por acaso não viste os três viajantes que aqui estavam?" O pequeno viajante responde:"Vêr, não vi..." "Ah... que estranho, pequeno...! Então diz-me lá como te chamas?" "Eu chamo-me viajante 1º 2º e 3º."
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)