terça-feira, março 31, 2009

.primavera minimalista

ao primeiro raio de sol, juntaram-se outros fotões, aglutinando-se. reciprocamente atraídos, aumentaram a intensidade do primeiro raio de sol, formando o segundo, o terceiro, o quarto... raios de sol.

olhares tímidos e intencionais.

dizem por aí que chegou a Primavera.

segunda-feira, março 23, 2009

.tu?

sei lá, se calhar não, mas tenho a certeza que sim. amanhã, quem sabe, acho que sim, mas também pode não ser, embora saiba perfeitamente que sim.

está sempre na minha cabeça e o coração quase que sai da boca, mas se calhar isso é das alergias ou da música que está a passar no ipod ou então tenho que ir ao cardiologista, analisar o meu coração numa máquina para chegar mais rapidamente à conclusão de que o coração não deixa de ser só uma máquina que bombeia o sangue.

eu sei porquê, não vale a pena pensar mais nisto, aliás, devia era estar a pensar em coisas mais importantes como a crise financeira, o desemprego, a desigualdade social, mas tu...

quarta-feira, março 18, 2009

.a crise do almoço na escola

Era o intervalo de almoço na Escola EB2,3 de Aldoar, escola essa que abrangia todas as classes sociais possíveis e imaginárias, formando um caldo social que nem sempre era saboroso aos meninos considerados betinhos. Mas à hora de almoço não havia cá conflitos, já estava acordado de antemão, que a translocação geográfica seria para o famoso luky luke, estabelecimento que vendia uma variedade incrível de gomas e que aguçava o apetite a todos os alunos da escola. Durante o percurso, o posicionamento na fila era importante. Quem fosse à frente, era atendido primeiro, sim, isso é óbvio, mas não era só esse o factor importante para o posicionamento... No meio tinham que ir os betinhos, esses é que tinham dinheiro, a gunada ía em filas laterais, tal qual escolta policial, a ameaçar os betinhos que se não tivessem 3 chiclas gorilas, 4 línguas de morango e 5 almofadas, íam ter uma esperinha quando saíssem do luky luke.

À hora de almoço, os donos do luky luke esfregavam as mãos de contentamento por ver tanta clientela a comprar doces que provocam cáries e sobre-excitamento da criançada, já por si inquieta, da Escola EB2,3. E a essa hora, todas as caixinhas de gomas e chiclas ficavam vazias, quem tentasse ir lá depois, era certinho, já não havia nada!

Chegada a escolta do luky luke ao recreio da escola, este enchia-se de meninos com línguas azuis,roxas, de risadas, de gula... e a cantina da escola, com refeições metodicamente calculadas para satisfazer as necessidades nutricionais dos meninos de forma saudável, vazia.

O stôr lucas, presidente do conselho directivo, intrigado com esta situação, iniciou a sua investigação, porque raio andava a cantina vazia e para onde ía aquela romaria de alunos. Ora pois bem, quando descobriu o que o luky luke andava a vender às crianças e que estas saíam da escola, percorrendo caminhos altamente perigosos para a sua segurança, iniciou uma campanha anti luky luke. No dia seguinte todos os professores na aula avisaram: não é permitido sair da escola durante a hora do almoço. Só com autorização prévia dos Pais!

No entanto, chegada a hora do almoço, todos os alunos dirigiram-se para o portão da escola, fechado, para verificar se não havia mesmo escapatória... Não havia mesmo como fugir...!

Rumo à cantina e à comida sem açucar, os alunos cabisbaixos da EB2,3 de Aldoar voltaram à velha rotina que, em comparação com as gomas coloridas, era cinzenta. Almoço com o mocho, o rato, o china e o coveiro a massacrar um betinho qualquer, a saladinha, a sopinha...

O luky luke entretanto fechou, ficou sem negócio.

terça-feira, março 10, 2009

.serviços

eu sempre gostei de tomar café a seguir ao almoço e quando não o posso tomar, ando o dia todo com trombas para o meu chefe.

tudo bem, trabalhar e atender os clientes e fazer crescer o negócio, é a prioridade, e, por isso, às vezes não há tempo para tomar café, mas mais 5 minutinhos, menos 5 minutinhos, é assim tão relevante? vamos mesmo perder algum cliente? eu acho que perdemos muitos mais quando vou para o balcão com a cabeça pesada, porque, cá entre nós, eu sou mestre a conquistar os clientes, mas sem café depois do almoço, tarde de trombas... não consigo vender o meu sorriso.

agora... quando eu tomo café a seguir ao almoço, deviam ver esta loja, cheia de clientes a gastar dinheiro, a ir embora de sorriso na boca. é por isso que eles voltam sempre, eu, no fundo, vendo o meu sorriso...



se ao menos o meu chefe pusesse aqui uma máquina de café...!

segunda-feira, março 09, 2009

.és assim

estou exausta, não porque estive a correr uma maratona ou a trabalhar o dia inteiro, mas porque estive em ensaio do côro.

o cansaço de um ensaio exigente é diferente de todos os outros cansaços e creio que é por implicar uma actividade cerebral e corporal tão complexa, que rebenta com a nossa energia de uma forma muito profunda, em nada semelhante com o cansaço de uma época de exames, de treino físico exigente ou de muitas horas de trabalho.

o cansaço depois de um concerto exigente é quase inebriante, deixa-me desligada mental e fisicamente, trôpega na minha expressão facial que luta, com olhos semi-cerrados e vermelhos, costas curvas e cabeça pesada, por ser agradável para com o meio externo. se deixo que os olhos fechem durante mais do que 10 segundos, a minha cabeça ouve linhas melódicas, harmonias, ritmos, timbres... o corpo sente as vibrações dos decibéis, as frequências dos sons e tudo isso transforma-se em mais cansaço.

música... és assim.

quarta-feira, março 04, 2009

.eu coro tanto

sempre me denunciaram, vermelhas, pouco circunscritas e pouco contidas, as minhas bochechas mostram sempre o que eu sinto.

já fiz várias tentativas para as apagar. uma consistiu na tentativa de desligar as sinapses que ligam o coração às bochechas. quando experimentei, a ansiedade, o esforço e a pressão que senti, fizeram desenvolver em mim o medo de parecer fria e falsa, que por sua vez, e ajudada pela adrenalina, fez com que as minhas bochechas inchassem de vermelho. houve relatos, nesse dia, de um astronauta, que conta que da lua conseguiu ver um ponto vermelho, desconhecido, situado em Portugal.

uma outra tentativa minha, já experimentada mais do que uma vez, foi a de cobrir a minha cara com base e que consistia no seguinte ritual: primeiro hidratava a minha face com cremes, depois aplicava a base. conseguia permanecer com cara de boneca de porcelana durante... 10 minutos, pois mais coisa, menos coisa, as bochechas invadiam o território à maquilhagem espessa e opaca, e o vermelho aparecia com todo o seu vigor, anunciando a sua conquista em território hostil.

também tentei ter o cabelo suficientemente comprido para tapar as bochechas, mas isso implicou vários hematomas, traumatismos e afins, dado que o cabelo cobria também os olhos.

rendi-me a elas e ao que elas me fazem. rendi-me, também ao coração, a cabeça não comanda nada...!

terça-feira, março 03, 2009

.jazz mood

chegou num fim de tarde solarengo, enquanto as flores apanhavam o primeiro sol de Inverno e as nuvens, preguiçosas, ficavam longe. chegou para ficar, intermitente e constante.

os olhos bem fechados, mostraram-me um sentir já conhecido e, enquanto incubava as memórias, o coração tornou-se um dínamo ampliado pela ansiedade...

agora que já esperei, observo calma e silenciosamente a dispersão das sombras e das noites longas.