enquanto sentada na poltrona da buganvília, observava o azul esbatido do céu e o vento a soprar por entre a folhagem híbrida e vigorosa, enquanto o canto silencioso da sala tocava música simples e leve.
a paisagem verde e colorida, com tempo para crescer para dar provas da sua fecundidade ou apenas generosidade, despertou em mim uma inveja melancólica e amarga. nesse momento, desejei eu poder ganhar raízes, enterrar-me na terra e ser livre na síntese do meu alimento, na minha dispersão. livre por não ter que falar sem dizer o que quero. livre do meu corpo que me obriga a ser o animal que sou.
lembrei-me que um dia...
enquanto sentada na pedra de granito da serra, observei a minha pequenez. arfei durante minutos e todo o ar que expeli fez com que os meus pulmões libertassem centímetros da minha rotina artificial e, nesse dia, sequei o musgo sorrateiro que, pioneiro, ornamentava a fraga.
enquanto sentada na poltrona da buganvília, desejava que sombras invadissem o céu para o cobrir com um manto espesso. desejava que a luz se apagasse durante muito tempo e que, depois de levantado o manto, nascesse uma nova ordem universal, para que eu, pequena e encolhida, pudesse finalmente esticar os meus ramos em direção ao sol e espalhar-me na corrente do vento.
sempre quis ir ao deserto do Gobi.
domingo, junho 12, 2011
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