quarta-feira, agosto 31, 2005

fantasia como aprendizagem


É possível aprender e integrar o mundo sem fantasia?


Ontem fui ao cinema ver o novo filme do Tim Burton: Charlie e a Fábrica de Chocolate, cujo ingrediente principal é a fantasia...! O filme era um conto de fadas e todos os cenários, personagens e estrutura, tinham como objectivo dar uma lição de vida: a importância dos afectos da nossa família.

Durante todo o filme permaneci de olhos bem abertos e tal como em criança, ri-me das trapalhadas infantis e vivi todo aquele fantástico com uma grande intensidade... Saí do cinema a pensar...: "foi assim que eu aprendi!".


Agora questiono-me: como é que será crescer num ambiente onde a fantasia não tem lugar e qual a interacção e aprendizagem do meio? Creio que num cenário destes é anulada a criança e, posteriormente, o adulto... É possível induzir fantasia a um adulto resultante de uma não criança? Ou é irreversível?

Será que enquanto adultos o espaço para a fantasia também tem que existir? Será que a sociedade permite a existência desse espaço?


Eu encontrei a minha solução. E vocês?

terça-feira, agosto 30, 2005

deserto de emoções....!

Após o fogo só restam pedras na terra... As árvores são uma miragem deste deserto negro.

Não há vida...!

Tenho a certeza que a natureza vai lutar contra este cenário e que se irá ver fetos a brotar da terra esquelética, árvores minúsculas a romper do solo, animais a colonizarem de novo... Não tenho a certeza que nós, donos desta terra, deste rectangulo negro, tenhamos a vontade de criar vida, contrariando o nosso próprio impulso biológico.

Sinto que o povo português sente vontade de se deixar levar por toda esta destruição, cuja consequência foram os fogos, por andar à procura de quem é, quem ou o quê anda a impedir a nossa auto-confiança...! E não creio que seja o vírus do fado, o vírus da saudade ou o atavismo. É algo mais camuflado e que virá de tempos remotos da formação da identidade como povo...! Algo colocou o dedo na ferida deste povo e em vez de ser um motor para dinamizar, criar, empreender (somos o povo dos navegantes...!!!), tornou-se num amargo veneno de acção lenta e sistémica!

A desesperança é o que todos nós sentimos e creio que todos nós temos o corpo pesado por sentir plena impotência (porque é que acreditamos nisto...?).

Não fomos nós o povo que deu a independência a Timor, que fez vigílias sucessivas, manifestações, que se vestiu de branco...? E porque é que somos o povo que não quer salvar o seu próprio país...? Porque é que nos convencemos que o poder não está em nós, mas em entidades engravatadas, eloquentes, maquilihadas no ecran que não é a realidade, mas apenas aquela que lá está...! Haverá mordaças...? Haverá censura...? Haverá assim tanta ignorância...?

Parece que estamos a sofrer de inércisite crónica.... O País encontra-se à beira do suícidio e não vejo braços no ar, gritos, palavras de amargura para quem deixa o veneno actuar.

Que raios, ainda vem aí o V Império e falta cumprir-se Portugal...!!!

....?

Lembro-me bem...
Tinha 6 anos e acordei a meio da noite a chorar compulsivamente. Corri para o quarto dos meus pais, mas quando cheguei à porta, não entrei, pois ouvi o respirar deles, característico de quem dormia profundamente, e não tive coragem para interromper o seu sono.

Voltei lentamente para o meu quarto sempre na esperança de que os meus pais me ouvissem no silêncio e me retirassem aquela angustia...

Assim que me sentei na cama, repeti baxinho: "não quero crescer, não quero crescer, não quero crescer..." com as lágrimas as escorrerem-me da face e o tronco a balançar.




Se eu tivesse batido à porta do quarto dos meus pais...?