Tiraram-me a identidade, hoje sei que eu já não sou a Inês. Sou o raio da vizinha do 4º esquerdo que toca piano.
Consciente da minha condição, o anterior estado de plenitude e de prazer enquanto estudava piano com afinco, transformou-se em pânico, suores frios, mãos trémulas e desarranjos intestinais.
Ocupo um espaço acústico altamente perturbador para o 3º esquerdo, que faz com que os seus ocupantes não consigam descansar, dormir e até viver com qualidade.
Eu, o raio da vizinha do 4º esquerdo que toca piano durante 2 horas ao fim da tarde, estou a mais nas orelhas do 3º esquerdo e nada posso fazer.
Vou continuar a tocar mergulhada no pânico, no suor frio, nas mãos trémulas, nos desarranjos intestinais, criando as condições terceiro-mundistas para os meus pobres vizinhos do 3º esquerdo que muito sofrem e padecem com a sua condição.
Num mundo ideal, imagino os meus vizinhos do 3º esquerdo a tocarem à minha porta com um bouquet de rosas a agradecer e a enaltecer a pianista que sou. Eu, corada e tímida, aceitaria as flores e agradecer-lhes-ía a amabilidade e o reconhecimento e retribuiria com o meu virtuosismo musical, que ainda não possuo, daqui a uns anos...
Alguém está a bater à minha porta... são eles... ouvem-me a teclar no computador e não conseguem concentrar-se no refogado...!!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
hehe...
Como eu te compreendo!!!
Beijinhux
Enviar um comentário