atrás do balcão, um homem calvo, de bigode queimado nas pontas, barriga proeminente, ar rigoroso e sério, observa o seu estabelecimento e os seus empregados, tal qual uma ave de rapina cansada. encostado ao balcão, o empregado do café com o tabuleiro redondo debaixo do braço, a mão direita na algibeira a agitar os trocos, um olhar atrevido e um sorriso menos contido, para as meninas que entram e saem do café, e a cabeça, algures, entre as gotículas que formam as nuvens.
na mesa do canto direito, a senhora de cabelo loiro pintado e armado. os lábios rosa escuro, os olhos maquilhados e carregados, a pele brilhante e excedentária, as unhas arranjadas e pintadas de rosa adamascado e indumentária a condizer. olhar septagenário, concentrado no passado, costas curvas, por causa das memórias, e mãos trémulas, por saber o que todos os dias a espera.
a meio da sala, sisudo, grave, austero, de olhar introspectivo e inteligente, observa o fumo do seu cigarro, para se distrair de si próprio, o Sr Dr, que admira os jovens rapazes que entram no café, por detrás das lentes baças dos seus óculos geométricos. cruza e descruza as pernas, sempre que se entusiasma na sua observação. é sempre o último a ir ter com a mulher com quem casou.