de repente acordei afogueada com o ar quente dentro do Austin Montego em plena tarde de verão algures entre o Torrão e o Alvito. mais uma vez o meu pai tinha calculado que a gasolina que tinha seria suficiente para chegarmos à próxima bomba, depois da próxima bomba e talvez ainda depois da próxima bomba de gasolina. era uma espécie de poder especial que tinha e de vez em quando acertava.
quando abri os olhos vi apenas o cabelo do meu pai todo no ar enquanto gritava "EMPURRA COM MAIS FORÇA!" e a minha mãe, que tinha medo de conduzir um carro sem combustível, ficou naturalmente encarregue de empurrar o Austin Montego completamente carregado em pleno paralelo incandescente para tentar deslocá-lo (não sei para onde!) sem sucesso.
zangado com o destino, o meu pai parou a cena ao sair do carro e dizer "DESISTO" enquanto cruzou as mãos ao peito e neste preciso momento aproximou-se de nós um senhor que me pareceu ser muito velhinho que ao aperceber-se da situação convidou-nos para entrar na herdade dele. sentou-nos à sombra de uma oliveira e com um poncho de cortiça deu-nos de beber a sua água e aqui ele aproveitou para dizer ao meu pai: "há duas semanas atrás lavrei aquele campo todo e depois deitei as sementes à terra. no dia seguinte pôs-se vento e levou as sementes todas, que posso eu fazer se não voltar a deitar à terra novas sementes?"
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