lembro-me bastante bem como era, era a casa com jardim, um lago, uma buganvília e um cão. tempos em que a presunção e a água benta espargia a existência e os olhares indiscretos e cínicos furavam o pinheiro, a araucária e os canteiros de bolbos coloridos. agora resta-me a buganvília na varanda e a água benta, os olhares cínicos, esses, cegaram, o jardim e o lago, só os do parque público aqui perto. não sei muito bem como vim parar ao agora, passou tudo muito rápido e parece que já tive, pelo menos, umas 5 vidas dentro da minha, algumas das quais sem buganvília ou água benta. e agora que estou numa encruzilhada que ainda não percebi se tem ou não estradas para trilhar, cheguei aquele lugar comum do pensamento: quanto do meu passado será meu futuro? e esta batida já gasta e quase desinteressante, apaga o ser epicurista que trago há muito tempo dentro de mim. agora é ontem. ontem é agora.
espiral anacrónica! e o que eu realmente quero é viver no bairro das janelas coloridas, aquele onde os meninos brincam na rua e onde as plantas trepadeiras servem para pintar e colorir mais cada casa. uma espécie de bairro do "Conta-me como foi", sei lá, gosto daquilo! e talvez aí conseguisse romper a barreira temporal que me impus, e repor a pulsação correcta da vida. falta tão pouco...
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