domingo, outubro 16, 2005

1 pensamento

Sentou-se na cerca timidamente aquecida pelo sol. Há 7 anos que o Sr Francisco observava o vento a soprar e a arrastar a sua terra. Na noite anterior tinham morrido mais 3 das suas ovelhas, não por fome, pois isso ainda se conseguia enganar, mas porque os pulmões das suas ovelhas já não suportavam o pó que pairava no ar ao fim de tantos anos de seca.

Acendeu um cigarro para enganar o pensamento, mas os seus olhos brilhantes não desviavam a sua atenção do céu. A única nuvem que o rodeava, era a nuvem de fumo do seu cigarro.

Tirou o seu velho boné da cabeça num sinal de clemência e como se de uma prece se tratasse, colocou a harmónica nos lábios gretados e soprou contra o vento as suas palavras. Quando as suas palavras se esgotaram, já era de noite. Não sentiu vontade de ir para casa preferiu sentir o calor da terra seca, deitando-se nela. A terra que era ele, em pó caminhou disperso no ar, para onde não se sabe.

Na manhã seguinte choveu.

3 comentários:

Mike Monteiro disse...

Belo texto Inês! Adorei e consigo imaginar mil imagens e mil ideias com ele.

Inês Dias de Carvalho disse...

Ui... vindo de ti sinto um peso na responsabilidade!

Sempre te disse que me identificava com a tua escrita, mas tu estás num patamar acima:)

Quero mais posts teus!!

Beijinhos***

Mike Monteiro disse...

Tenho uns anos de avanço :P