cada uma com o seu puxo, daqueles que as mulheres da aldeia costumam usar, a andar de metro, no porto.
não paravam de ter aquela conversa típica de mundo pequeno, em que a vida dos seus filhos é o único tema que conseguem ter e, de preferência, provando que os seus filhos são os melhores do mundo e que vão muito bem na vida, graças a deus, recalcando os filhos das outras amigas, que vão bem, mas não chega a tanto! claro que o discurso moral não podia faltar, como se não houvessem telhados de vidro, discurso esse que as ruborizava e encandescia, tantas eram as vezes que abanavam a mão, como se de um leque se tratasse sempre que mencionavam isto ou aquilo...!
pequeninas, com as pernas a flutuar no metro, hipnotizaram a minha atenção, como se eu estivesse a ver um episódio da minha infância. nessa altura, vi muitas mulheres como aquelas. eram avós ou mães dos meus colegas da escola, mulheres essas que nasceram bem longe do Porto e que para cá vieram à procura de uma vida melhor. tive, inclusivé uma Professora Primária exactamente assim, com aquele puxo, aquela fisionomia e aquela fé católica cega, a D. Rosa, que olhava para mim de lado, porque eu era a filha do Sr Dr e não andava na catequese.
acho que uma vez, a D. Rosa, chamou os meus Pais, numa tentativa de espalhar a fé sobre o meu lar e salvar as nossas almas. o puxo, a fisionomia e o cheiro de beata não os convenceu. 1 ano mais tarde, a D. Rosa deixou de ser Professora lá na Escola. parece que eu e os meus Pais não tínhamos sido os únicos a sofrer a pressão evangelizadora da D. Rosa, Directora da minha Escola Primária, por sinal, pública. lembro-me como foi libertador ter que deixar de fingir que sabia rezar no início de cada aula.
foi um alívio sair do metro e deixar de ter aquelas figurinhas à minha frente, não sei porquê, isso fez-me voltar a sentir exactamente o mesmo que senti quando pude deixar de fingir na minha Escola.
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