na pequena vila branca dos jacarandás, as andorinhas voavam rasantes e eléctricas pelo calor seco. os homens da vila, à porta das suas casas pequenas e brancas, esperavam, pesados, o frio da noite na cadeira de palhinha pequena e tosca, plateia da cinzenta calçada e das oliveiras centenárias retorcidas. os miúdos, sujos do dia quente, descansavam no sopé das cadeiras pequenas e toscas, desenhando as rotas das andorinhas efervescentes, enquanto esperavam que as pedras da calçada arrefecessem o cansaço. no ar, o aroma do azeite quente, alho e coentros preenchia a ausência das mulheres na rua, que presas nas casas brancas, cozinhavam o cair da noite.
quando finalmente o sol caía, as ruas ficavam desertas, preparando-se para o regresso dos homens, dos miúdos e, agora também, das mulheres da pequena vila branca dos jacarandás, ao som do tilintar da loiça florida com o metal dos talheres.
recolhidas as andorinhas, vinha o merecido descanso do calor para a rua e com ele as estórias, as discussões, as brincadeiras, transformando o branco da vila em côr e o silêncio quente em fresco palrear. a esta hora, as cadeiras de palhinha pequenas e toscas multiplicavam-se com homens e mulheres da vila e, a calçada cinzenta, tornava-se palco da correria dos miúdos. camufladas, as oliveiras centenárias retorcidas fundiam-se no negro da noite, libertando a vila do seu passado.
lentamente, o branco das casas e o cinzento da calçada voltava a ganhar definição. chegava a hora do sono que preparava a vila para mais um dia a trabalhar a terra fina, outrora fértil, aquecida pelo Sol demasiado quente.
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