domingo, agosto 26, 2007

estorias.

Tive que deixar a mãe dos meus três filhos. Há muitos anos que me tenho traído para conseguir dar algum conforto a esta mulher. Sou um tipo às direitas, não consigo corromper-me, baixar o meu nível de decência, deixar os meus valores universais e a utopia, e, acima de tudo, não consigo mais viver fora de mim e, por isso, tive que deixar a mãe deles.
Os meus filhos não entendem o que se passa, olham-me com os seus pequenos e frágeis olhos com desdém, lembrando-me que eu falhei. São tão pequenos... Perdi o controlo, estou sózinho e sinto-me desprotegido e abandonado pelos ideiais e pela paixão de viver.
Gostaria que ao menos eles, os meus filhos, caminhassem comigo lado a lado. Assim, eu seria eterno e eles felizes.




Há três meses que não lhe vinham as regras. Sentia o seu corpo inchado, volumoso, corrompido pela paixão. Não sabia o que sentir, embora soubesse que devia estar feliz. Não sabia como era ou quem era o ser que trazia dentro dela, que dependia de si e que iria fazer dela o que ela nunca teve. Seguiram-se seis meses de dores, de noites mal passadas, de solidão, até que um dia o seu corpo a virou-se contra si própria, expelindo o ser que tinha alimentado, carregado durante nove meses. Era o fim e o seu corpo oferecia-lhe mais dor, para que um bébé que ela não sabia quem era ou como era, nascesse. Quando viu o seu bébé enrugado, feio, pequeno e frágil, pensou como poderia vir a gostar de uma coisa assim tão feia.

quinta-feira, junho 21, 2007

massa-melódica-espaço-continum

uma torneira aberta pingava. o aglomerado das gotículas formara uma massa contínua, ocupando o espaço que apenas essas pequenas partículas podiam ocupar.

(uma gota.

uma gotinha.

uma gota...)

uma torneira aberta pingava e a melodia que debitava era monótona e tranquila. os compassos eram ora cheios ora vazios e o tempo, incoerente, pulsava.

(uma gota.)

.fim

segunda-feira, março 27, 2006

a razão é o sentir

Desenha-se uma linha transparente sempre que um castelo de areia cai.

Por vezes, cai-se com as ondas e fica-se em pó.

Ouve-se remoínhos e cose-se novelos suaves de silêncio com pitadas de sal.

Sorri-se doce e embriagadamente constelações etéreas e doces.

Sempre o sentir!

Desenha-se sempre um círculo quando se é esfera.

Procura-se um grão de areia num poço profundo.

Ilumina-se o Sol...

Já me disseram: sempre o sentir!

domingo, março 26, 2006

quinta-feira, março 23, 2006

Porquê parar?

O leão que era dente rugiu à volta do nariz do vizinho do 2º direito.
O nariz, que era sisudo e sério, respondeu com a arrogância do seu fulano, tendo expirado com força o ar condicionado ao seu corpo.

Nisto, a vizinha do 312 com o balanço das ancas no compasso de entrada desconcertou o nariz sisudo e sério do vizinho do 2º direito. Este começou a embalar-se no ritmo do farejo perdendo solenemente o anterior estado de seriedade.

Eis que os dois deparam-se com a vizinha do 1º esquerdo embrulhada no seu rafeiro, aquele que todas as manhãs deixa a entrada do prédio com presentes de boas-vindas! Ao cruzarem-se os olhos de todos rosnam, as ancas da vizinha do 312 páram a tempo, o nariz ritmado do vizinho do 2º direito encolhe zangado e a boca da vizinha do 1º esquerdo sorri em amarelo.

O filho dos vizinhos do R/C, guiado pela bola de futebol, tropeça nos dois vizinhos que estavam estáticos na entrada do prédio e marca golo no rafeiro da vizinha do 1º esquerdo. Os vizinhos estáticos em euforia gritaram: gooooolo! O rafeiro deu o seu último latido que foi ouvido somente pelo tísico ouvido da sua dona...

O dente que era leão, após ter repousado estes segundos, sentiu de novo a sua força locomotora... Partiu!

quinta-feira, março 16, 2006

o comboio educacional-emocional

Com o pulso fraco mergulhou dentro de uma nuvem, condensando até à alma o seu vapor. (pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)
Trilhava montanhas e planícies unindo as duas formas numa só linha e com estas duas dimensões ajudava amores e corações a encontrarem-se nas partidas e chegadas.
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)

O 1º Viajante, em poucos segundos seguia viagem. Os seus olhos embrulhados em jornais, pareciam querer mostrar o que era ser actual.
O 2º viajante oferecia à paisagem os seus olhos, queria mostrar a poesia da contemplação.
O 3ºviajante esboçava os beiços macambúzios para os outros dois viajantes. Ele sim é que era sério!
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)

1º Viajante: "já viram, caros viajantes, o governo quer aumentar os impostos!!"
2º Viajante:"mas os impostos são só dinheiro... já viu a paisagem? as cores mudam..."
3º Viajante: "se aumentarem os impostos é fácil, gasta-se menos!"
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)

De repente o comboio entra num túnel escuro e longo e o silêncio tenso da carruagem transformou-se numa parafernália de cores brilhantes, tendo mesmo sido descrito por outros viajantes uma nuvem que debitava raios de luz, iguais aos relâmpagos da atmosfera. Findo o túnel longo e escuro, já não se encontravam nos seus lugares os três viajantes.
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)

Um viajante mais curioso aproximou-se dos lugares onde os três viajantes haviam sido vistos e eis que o seu olhar alcançou um pequeno viajante: "Olá pequeno viajante! Tu por acaso não viste os três viajantes que aqui estavam?" O pequeno viajante responde:"Vêr, não vi..." "Ah... que estranho, pequeno...! Então diz-me lá como te chamas?" "Eu chamo-me viajante 1º 2º e 3º."
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)

quarta-feira, janeiro 18, 2006

terça-feira, novembro 15, 2005

dizer faz a língua travar...

Three Swedish switched witches watch three Swiss Swatch watch switches.
Which Swedish switched witch watch which Swiss Swatch watch switch?

segunda-feira, novembro 14, 2005

em cima do pavimento

Tudo estava parado ao ritmo de uma melodia pausada.
Não havia frio nem calor.
Os passos seguiam a sincronização da envolvência.

A sombra moldava o o cimento e as folhas vermelhas coloriam.

Geometria etérea da paisagem.

Espaço complexo do estado de alma.



Eterno presente.

segunda-feira, outubro 31, 2005

hoje acordei com vontade de dormir.

o Metro do Porto é uma benção

Agradeço à normetro por ter acordado às 7h da manhã para apanhar um metro que não veio e assim ter perdido mais um dia de aulas, dado que esta ocorrência não é 1 caso isolado!

quarta-feira, outubro 19, 2005

da pedra cantava...

Cantava com uma voz límpida os sons do fundo. Dizia que era cego e que só via o que ninguém vê.

Sentava-se todos os dias no largo da aldeia em cima da mesma pedra cantando e fotografando o espírito de cada momento. Os seus amigos, de lá da terra, diziam que ele não foi sempre assim, que já foi como eles, mas alguém o almadiçoou e a partir daí deixou a sua casa, deixou o seu trabalho na lavoura, deixou as suas terras e passou a dormir à porta da igreja. Dizem que assim ele devia sentir-se mais protegido por Deus. Explicaram também, que por ter deixado tudo, Deus o recompensou e tornou-o santo.

-Ninguém no mundo canta como ele e cá na aldeia já ninguém passa sem o seu canto.

Um dia a aldeia não acordou com a alvorada. A pedra do largo estava fria. Sentia-se um calor de trovoada. No céu formavam-se nuvens densas e escuras e, num ápice, descarregaram toda a sua força celeste. Nada restou.


Ouve-se todos os dias um canto límpido dos sons do fundo e vem de uma pedra: "Eu sou um homem cego, mas vejo o que ninguém vê."

terça-feira, outubro 18, 2005

as coisas simples

Sempre contaste as estrelas baixinho e lentamente. Dizes que assim adormeces e sonhas mais perto do infinito.
Às vezes cantas para elas, pois gostas de cuidar desse cantinho que te aquece.

Perguntei-te como fazias quando o céu estava encoberto e tu explicaste, com um sorriso, as coisas simples.

domingo, outubro 16, 2005

1 pensamento

Sentou-se na cerca timidamente aquecida pelo sol. Há 7 anos que o Sr Francisco observava o vento a soprar e a arrastar a sua terra. Na noite anterior tinham morrido mais 3 das suas ovelhas, não por fome, pois isso ainda se conseguia enganar, mas porque os pulmões das suas ovelhas já não suportavam o pó que pairava no ar ao fim de tantos anos de seca.

Acendeu um cigarro para enganar o pensamento, mas os seus olhos brilhantes não desviavam a sua atenção do céu. A única nuvem que o rodeava, era a nuvem de fumo do seu cigarro.

Tirou o seu velho boné da cabeça num sinal de clemência e como se de uma prece se tratasse, colocou a harmónica nos lábios gretados e soprou contra o vento as suas palavras. Quando as suas palavras se esgotaram, já era de noite. Não sentiu vontade de ir para casa preferiu sentir o calor da terra seca, deitando-se nela. A terra que era ele, em pó caminhou disperso no ar, para onde não se sabe.

Na manhã seguinte choveu.

segunda-feira, outubro 10, 2005

sentimentos 1000


Mais de metade do meu cérebro gasta a sua actividade a pensar numa só coisa. Caí de repente, numa panóplia de sentimentos um pouco lamechas, um pouco banais...
Dou por mim a criar rugas de expressão novas, pois descobri em mim mais de 1000 formas de sentir o mesmo e a minha face tem explorado novos músculos ao mesmo tempo que o meu cérebro cinzento e pesado processa todas essas sensações.

E assim me deixo tecer, sussurando-te em silêncio aquilo que tu me consegues dizer.


É o suave desembarque no cais do coração...




Para ti F.

Cliché institucional do ensino

Come um doce...

O silêncio compra-se com o açucar.


Reivindica!!

Mas não penses que consegues...


Cala-te e paga!

Canteiro minado à beira mar plantado

O país está a morrer... Está morrer porque os seus valores estão em decomposição, porque as suas instituições são serventia de cunhas, porque o povo vota em candidatos corruptos e criminosos para a sua autarquia...

Não me reconheço neste país armadilhado!