Tive que deixar a mãe dos meus três filhos. Há muitos anos que me tenho traído para conseguir dar algum conforto a esta mulher. Sou um tipo às direitas, não consigo corromper-me, baixar o meu nível de decência, deixar os meus valores universais e a utopia, e, acima de tudo, não consigo mais viver fora de mim e, por isso, tive que deixar a mãe deles.
Os meus filhos não entendem o que se passa, olham-me com os seus pequenos e frágeis olhos com desdém, lembrando-me que eu falhei. São tão pequenos... Perdi o controlo, estou sózinho e sinto-me desprotegido e abandonado pelos ideiais e pela paixão de viver.
Gostaria que ao menos eles, os meus filhos, caminhassem comigo lado a lado. Assim, eu seria eterno e eles felizes.
Há três meses que não lhe vinham as regras. Sentia o seu corpo inchado, volumoso, corrompido pela paixão. Não sabia o que sentir, embora soubesse que devia estar feliz. Não sabia como era ou quem era o ser que trazia dentro dela, que dependia de si e que iria fazer dela o que ela nunca teve. Seguiram-se seis meses de dores, de noites mal passadas, de solidão, até que um dia o seu corpo a virou-se contra si própria, expelindo o ser que tinha alimentado, carregado durante nove meses. Era o fim e o seu corpo oferecia-lhe mais dor, para que um bébé que ela não sabia quem era ou como era, nascesse. Quando viu o seu bébé enrugado, feio, pequeno e frágil, pensou como poderia vir a gostar de uma coisa assim tão feia.
domingo, agosto 26, 2007
quinta-feira, junho 21, 2007
massa-melódica-espaço-continum
uma torneira aberta pingava. o aglomerado das gotículas formara uma massa contínua, ocupando o espaço que apenas essas pequenas partículas podiam ocupar.
(uma gota.
uma gotinha.
uma gota...)
uma torneira aberta pingava e a melodia que debitava era monótona e tranquila. os compassos eram ora cheios ora vazios e o tempo, incoerente, pulsava.
(uma gota.)
.fim
(uma gota.
uma gotinha.
uma gota...)
uma torneira aberta pingava e a melodia que debitava era monótona e tranquila. os compassos eram ora cheios ora vazios e o tempo, incoerente, pulsava.
(uma gota.)
.fim
segunda-feira, março 27, 2006
a razão é o sentir
Desenha-se uma linha transparente sempre que um castelo de areia cai.
Por vezes, cai-se com as ondas e fica-se em pó.
Ouve-se remoínhos e cose-se novelos suaves de silêncio com pitadas de sal.
Sorri-se doce e embriagadamente constelações etéreas e doces.
Sempre o sentir!
Desenha-se sempre um círculo quando se é esfera.
Procura-se um grão de areia num poço profundo.
Ilumina-se o Sol...
Já me disseram: sempre o sentir!
Por vezes, cai-se com as ondas e fica-se em pó.
Ouve-se remoínhos e cose-se novelos suaves de silêncio com pitadas de sal.
Sorri-se doce e embriagadamente constelações etéreas e doces.
Sempre o sentir!
Desenha-se sempre um círculo quando se é esfera.
Procura-se um grão de areia num poço profundo.
Ilumina-se o Sol...
Já me disseram: sempre o sentir!
domingo, março 26, 2006
(...) entre parêntesis
não foi assim que eu aprendi a sorrir e, estranhamente, sorrio apenas como eu.
quinta-feira, março 23, 2006
Porquê parar?
O leão que era dente rugiu à volta do nariz do vizinho do 2º direito.
O nariz, que era sisudo e sério, respondeu com a arrogância do seu fulano, tendo expirado com força o ar condicionado ao seu corpo.
Nisto, a vizinha do 312 com o balanço das ancas no compasso de entrada desconcertou o nariz sisudo e sério do vizinho do 2º direito. Este começou a embalar-se no ritmo do farejo perdendo solenemente o anterior estado de seriedade.
Eis que os dois deparam-se com a vizinha do 1º esquerdo embrulhada no seu rafeiro, aquele que todas as manhãs deixa a entrada do prédio com presentes de boas-vindas! Ao cruzarem-se os olhos de todos rosnam, as ancas da vizinha do 312 páram a tempo, o nariz ritmado do vizinho do 2º direito encolhe zangado e a boca da vizinha do 1º esquerdo sorri em amarelo.
O filho dos vizinhos do R/C, guiado pela bola de futebol, tropeça nos dois vizinhos que estavam estáticos na entrada do prédio e marca golo no rafeiro da vizinha do 1º esquerdo. Os vizinhos estáticos em euforia gritaram: gooooolo! O rafeiro deu o seu último latido que foi ouvido somente pelo tísico ouvido da sua dona...
O dente que era leão, após ter repousado estes segundos, sentiu de novo a sua força locomotora... Partiu!
O nariz, que era sisudo e sério, respondeu com a arrogância do seu fulano, tendo expirado com força o ar condicionado ao seu corpo.
Nisto, a vizinha do 312 com o balanço das ancas no compasso de entrada desconcertou o nariz sisudo e sério do vizinho do 2º direito. Este começou a embalar-se no ritmo do farejo perdendo solenemente o anterior estado de seriedade.
Eis que os dois deparam-se com a vizinha do 1º esquerdo embrulhada no seu rafeiro, aquele que todas as manhãs deixa a entrada do prédio com presentes de boas-vindas! Ao cruzarem-se os olhos de todos rosnam, as ancas da vizinha do 312 páram a tempo, o nariz ritmado do vizinho do 2º direito encolhe zangado e a boca da vizinha do 1º esquerdo sorri em amarelo.
O filho dos vizinhos do R/C, guiado pela bola de futebol, tropeça nos dois vizinhos que estavam estáticos na entrada do prédio e marca golo no rafeiro da vizinha do 1º esquerdo. Os vizinhos estáticos em euforia gritaram: gooooolo! O rafeiro deu o seu último latido que foi ouvido somente pelo tísico ouvido da sua dona...
O dente que era leão, após ter repousado estes segundos, sentiu de novo a sua força locomotora... Partiu!
quinta-feira, março 16, 2006
o comboio educacional-emocional
Com o pulso fraco mergulhou dentro de uma nuvem, condensando até à alma o seu vapor. (pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)
Trilhava montanhas e planícies unindo as duas formas numa só linha e com estas duas dimensões ajudava amores e corações a encontrarem-se nas partidas e chegadas.
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)
O 1º Viajante, em poucos segundos seguia viagem. Os seus olhos embrulhados em jornais, pareciam querer mostrar o que era ser actual.
O 2º viajante oferecia à paisagem os seus olhos, queria mostrar a poesia da contemplação.
O 3ºviajante esboçava os beiços macambúzios para os outros dois viajantes. Ele sim é que era sério!
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)
1º Viajante: "já viram, caros viajantes, o governo quer aumentar os impostos!!"
2º Viajante:"mas os impostos são só dinheiro... já viu a paisagem? as cores mudam..."
3º Viajante: "se aumentarem os impostos é fácil, gasta-se menos!"
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)
De repente o comboio entra num túnel escuro e longo e o silêncio tenso da carruagem transformou-se numa parafernália de cores brilhantes, tendo mesmo sido descrito por outros viajantes uma nuvem que debitava raios de luz, iguais aos relâmpagos da atmosfera. Findo o túnel longo e escuro, já não se encontravam nos seus lugares os três viajantes.
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)
Um viajante mais curioso aproximou-se dos lugares onde os três viajantes haviam sido vistos e eis que o seu olhar alcançou um pequeno viajante: "Olá pequeno viajante! Tu por acaso não viste os três viajantes que aqui estavam?" O pequeno viajante responde:"Vêr, não vi..." "Ah... que estranho, pequeno...! Então diz-me lá como te chamas?" "Eu chamo-me viajante 1º 2º e 3º."
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)
Trilhava montanhas e planícies unindo as duas formas numa só linha e com estas duas dimensões ajudava amores e corações a encontrarem-se nas partidas e chegadas.
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)
O 1º Viajante, em poucos segundos seguia viagem. Os seus olhos embrulhados em jornais, pareciam querer mostrar o que era ser actual.
O 2º viajante oferecia à paisagem os seus olhos, queria mostrar a poesia da contemplação.
O 3ºviajante esboçava os beiços macambúzios para os outros dois viajantes. Ele sim é que era sério!
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)
1º Viajante: "já viram, caros viajantes, o governo quer aumentar os impostos!!"
2º Viajante:"mas os impostos são só dinheiro... já viu a paisagem? as cores mudam..."
3º Viajante: "se aumentarem os impostos é fácil, gasta-se menos!"
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)
De repente o comboio entra num túnel escuro e longo e o silêncio tenso da carruagem transformou-se numa parafernália de cores brilhantes, tendo mesmo sido descrito por outros viajantes uma nuvem que debitava raios de luz, iguais aos relâmpagos da atmosfera. Findo o túnel longo e escuro, já não se encontravam nos seus lugares os três viajantes.
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)
Um viajante mais curioso aproximou-se dos lugares onde os três viajantes haviam sido vistos e eis que o seu olhar alcançou um pequeno viajante: "Olá pequeno viajante! Tu por acaso não viste os três viajantes que aqui estavam?" O pequeno viajante responde:"Vêr, não vi..." "Ah... que estranho, pequeno...! Então diz-me lá como te chamas?" "Eu chamo-me viajante 1º 2º e 3º."
(pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra...)
quarta-feira, janeiro 18, 2006
terça-feira, novembro 15, 2005
dizer faz a língua travar...
Three Swedish switched witches watch three Swiss Swatch watch switches.
Which Swedish switched witch watch which Swiss Swatch watch switch?
Which Swedish switched witch watch which Swiss Swatch watch switch?
segunda-feira, novembro 14, 2005
em cima do pavimento
Tudo estava parado ao ritmo de uma melodia pausada.
Não havia frio nem calor.
Os passos seguiam a sincronização da envolvência.
A sombra moldava o o cimento e as folhas vermelhas coloriam.
Geometria etérea da paisagem.
Espaço complexo do estado de alma.
Eterno presente.
Não havia frio nem calor.
Os passos seguiam a sincronização da envolvência.
A sombra moldava o o cimento e as folhas vermelhas coloriam.
Geometria etérea da paisagem.
Espaço complexo do estado de alma.
Eterno presente.
segunda-feira, outubro 31, 2005
o Metro do Porto é uma benção
Agradeço à normetro por ter acordado às 7h da manhã para apanhar um metro que não veio e assim ter perdido mais um dia de aulas, dado que esta ocorrência não é 1 caso isolado!
quinta-feira, outubro 27, 2005
quarta-feira, outubro 19, 2005
da pedra cantava...
Cantava com uma voz límpida os sons do fundo. Dizia que era cego e que só via o que ninguém vê.
Sentava-se todos os dias no largo da aldeia em cima da mesma pedra cantando e fotografando o espírito de cada momento. Os seus amigos, de lá da terra, diziam que ele não foi sempre assim, que já foi como eles, mas alguém o almadiçoou e a partir daí deixou a sua casa, deixou o seu trabalho na lavoura, deixou as suas terras e passou a dormir à porta da igreja. Dizem que assim ele devia sentir-se mais protegido por Deus. Explicaram também, que por ter deixado tudo, Deus o recompensou e tornou-o santo.
-Ninguém no mundo canta como ele e cá na aldeia já ninguém passa sem o seu canto.
Um dia a aldeia não acordou com a alvorada. A pedra do largo estava fria. Sentia-se um calor de trovoada. No céu formavam-se nuvens densas e escuras e, num ápice, descarregaram toda a sua força celeste. Nada restou.
Ouve-se todos os dias um canto límpido dos sons do fundo e vem de uma pedra: "Eu sou um homem cego, mas vejo o que ninguém vê."
Sentava-se todos os dias no largo da aldeia em cima da mesma pedra cantando e fotografando o espírito de cada momento. Os seus amigos, de lá da terra, diziam que ele não foi sempre assim, que já foi como eles, mas alguém o almadiçoou e a partir daí deixou a sua casa, deixou o seu trabalho na lavoura, deixou as suas terras e passou a dormir à porta da igreja. Dizem que assim ele devia sentir-se mais protegido por Deus. Explicaram também, que por ter deixado tudo, Deus o recompensou e tornou-o santo.
-Ninguém no mundo canta como ele e cá na aldeia já ninguém passa sem o seu canto.
Um dia a aldeia não acordou com a alvorada. A pedra do largo estava fria. Sentia-se um calor de trovoada. No céu formavam-se nuvens densas e escuras e, num ápice, descarregaram toda a sua força celeste. Nada restou.
Ouve-se todos os dias um canto límpido dos sons do fundo e vem de uma pedra: "Eu sou um homem cego, mas vejo o que ninguém vê."
terça-feira, outubro 18, 2005
as coisas simples
Sempre contaste as estrelas baixinho e lentamente. Dizes que assim adormeces e sonhas mais perto do infinito.
Às vezes cantas para elas, pois gostas de cuidar desse cantinho que te aquece.
Perguntei-te como fazias quando o céu estava encoberto e tu explicaste, com um sorriso, as coisas simples.
Às vezes cantas para elas, pois gostas de cuidar desse cantinho que te aquece.
Perguntei-te como fazias quando o céu estava encoberto e tu explicaste, com um sorriso, as coisas simples.
domingo, outubro 16, 2005
1 pensamento
Sentou-se na cerca timidamente aquecida pelo sol. Há 7 anos que o Sr Francisco observava o vento a soprar e a arrastar a sua terra. Na noite anterior tinham morrido mais 3 das suas ovelhas, não por fome, pois isso ainda se conseguia enganar, mas porque os pulmões das suas ovelhas já não suportavam o pó que pairava no ar ao fim de tantos anos de seca.
Acendeu um cigarro para enganar o pensamento, mas os seus olhos brilhantes não desviavam a sua atenção do céu. A única nuvem que o rodeava, era a nuvem de fumo do seu cigarro.
Tirou o seu velho boné da cabeça num sinal de clemência e como se de uma prece se tratasse, colocou a harmónica nos lábios gretados e soprou contra o vento as suas palavras. Quando as suas palavras se esgotaram, já era de noite. Não sentiu vontade de ir para casa preferiu sentir o calor da terra seca, deitando-se nela. A terra que era ele, em pó caminhou disperso no ar, para onde não se sabe.
Na manhã seguinte choveu.
Acendeu um cigarro para enganar o pensamento, mas os seus olhos brilhantes não desviavam a sua atenção do céu. A única nuvem que o rodeava, era a nuvem de fumo do seu cigarro.
Tirou o seu velho boné da cabeça num sinal de clemência e como se de uma prece se tratasse, colocou a harmónica nos lábios gretados e soprou contra o vento as suas palavras. Quando as suas palavras se esgotaram, já era de noite. Não sentiu vontade de ir para casa preferiu sentir o calor da terra seca, deitando-se nela. A terra que era ele, em pó caminhou disperso no ar, para onde não se sabe.
Na manhã seguinte choveu.
segunda-feira, outubro 10, 2005
sentimentos 1000

Mais de metade do meu cérebro gasta a sua actividade a pensar numa só coisa. Caí de repente, numa panóplia de sentimentos um pouco lamechas, um pouco banais...
Dou por mim a criar rugas de expressão novas, pois descobri em mim mais de 1000 formas de sentir o mesmo e a minha face tem explorado novos músculos ao mesmo tempo que o meu cérebro cinzento e pesado processa todas essas sensações.
E assim me deixo tecer, sussurando-te em silêncio aquilo que tu me consegues dizer.
É o suave desembarque no cais do coração...
Para ti F.
Cliché institucional do ensino
Come um doce...
O silêncio compra-se com o açucar.
Reivindica!!
Mas não penses que consegues...
Cala-te e paga!
O silêncio compra-se com o açucar.
Reivindica!!
Mas não penses que consegues...
Cala-te e paga!
Canteiro minado à beira mar plantado
O país está a morrer... Está morrer porque os seus valores estão em decomposição, porque as suas instituições são serventia de cunhas, porque o povo vota em candidatos corruptos e criminosos para a sua autarquia...
Não me reconheço neste país armadilhado!
Não me reconheço neste país armadilhado!
sexta-feira, setembro 30, 2005
domingo, setembro 25, 2005
Subscrever:
Mensagens (Atom)