quarta-feira, maio 13, 2009

.estórias urbanas: as mulheres e as aves canoras

margarida eufémia, vivia no 2º esquerdo do prédio das portadas brancas. saía todos os dias para o trabalho, gingona e bem disposta, a ouvir a canção que um tal de melro lhe cantava frequentemente. embrulhada pelo chilrear, aquecia o peito e cantava um sorriso infinito, que fazia desabrochar todas a flores por que passava.

a sra d. vitória, dona do quiosque lá do bairro, dizia, sempre que via margarida eufémia a passar nesta figura, que o melro que ela ouvia cantar era um bandido e que mais dia menos dia, margarida eufémia iria passar na rua de lágrima no canto do olho, fazendo murchar todas as flores que encontrasse na rua e que o seu coração iria definhar de tristeza... mas margarida, alheia a tudo, continuava na sua nuvem a passear-se pelo bairro, exibindo a sua felicidade, para todos os seus vizinhos, e contagiando a atmosfera circundante...

um dia, margarida saiu do seu prédio, com outro ar, um ar mais decidido, mais assente no chão. A sra d. vitória desconfiou logo... O melro já tinha feito das suas vadiagens... Não resistiu e perguntou a margarida: "Então, guidinha? Como vai o melro?" ao que margarida eufémia respondeu: "melro? eu agora tenho um colibri"

a sra d. vitória pensou para si mesma, que no tempo dela as moças não tinham esta sorte... se ela soubesse o que hoje sabe, se calhar não estaria com o mesmo pardal há 25 anos, sempre gostou mais de piriquitos.

 

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