prostrada na esplanada de vidro sentei o meu olhar na rocha em frente. ouvi o som cristalino e salgado das ondas e imaginei todos os peixinhos que nadavam ao pé de mim. sorri, como se fizesse parte da brincadeira tola dos cardumes prateados na espuma do mar. não resisti em invejá-los e desejar ser, também, um peixinho de mar a fugir das redes e a deliciar-me com a força das ondas, nadando e fluindo sem fronteiras.
voltei para a esplanada envidraçada, e sacudi o sargaço do ombro, pois vi que estavam a olhar para mim.
terça-feira, maio 26, 2009
quarta-feira, maio 20, 2009
.força centrípeta
O que encontrei...
"Todos os movimentos da sensibilidade, por agradáveis que sejam, são sempre interrupções de um estado, que não sei em que consiste, que é a vida íntima dessa própria sensibilidade. Não só as grandes preocupações, que nos distraem de nós, mas até as pequenas arrelias, perturbam uma quietação a que todos, sem saber, aspiramos.
Vivemos quase sempre fora de nós, e a mesma vida é uma perpétua dispersão. Porém, é para nós que tendemos, como para um centro em torno do qual fazemos, como os planetas, elipses absurdas e distantes." in Livro do Desassossego, Bernardo Soares
terça-feira, maio 19, 2009
.estória na cidade: andante
Sei que não sou a única espectadora, o palco é de muita gente. Gente que se senta no lugar da janela e observa as estórias que viajam durante escassos minutos, mas que nos acompanham até casa e que preenchem, por tempo indeterminado, a imaginação.
Entrou no metro de modo conspícuo, com a roupa cinzenta, a remeter para um estado de alma um pouco enlutado, com o puxo cinzento e as rugas de quem já passou muitas horas ao sol a trabalhar. Ao lado dela, entrou, também, um sujeito quase transparente, encolhido sobre si mesmo, que tapado pelos seus óculos, provavelmente já a precisarem de uma substituição vai há mais de 15 anos, tornou-se disponível para ouvir o que a redonda e curvilínea matriarca tinha para dizer bem alto sobre o passe do metro para reformados. Bem alto, aquela mulher que era de um outro tempo, fazia publicidade ao metro, dizendo que agora ía para todo o lado num instantinho: "Eu agora vou para matosinhos, boavista, s. joão... só não dá para ir pá maia, para gaia... de resto, vou para todo o lado!!! É uma maravilha!!"
O reformado, transparente e silencioso, acenava com a cabeça, concordando com todas as vantagens que a redonda mulher enumerava bem alto, sem acrescentar nada às suas palavras...
O metro tinha agora chegado a uma das estações mais cosmopolitas da cidade e, do metro moderno, vejo a sair a mulher anacrónica, com a camisola cinzenta, a saia cinzenta, o avental cinzento, o puxo cinzento, o andar gingão de quem já foi mãe de sete e, a condizer com o metro, nos pés calçava uns crocs amarelos.
Surpreendida com a conjugação de todos os factores, esbocei um sorriso para mim própria, observando a ironia de todo o episódio. Ao mesmo tempo, entrou uma mulher, geométrica, rural, com um fato de fibra, mal assentado ao corpo, com cabelo preto vivo e penteado de senhora de idade da aldeia, que sem uma ruga ou expressão, tinha uns óculos sem jeito. Senti o desconforto dela enquanto ser feminino, desviei o olhar, para ela não se sentir observada, mas não resisti em decifrar as letras que estavam na pastinha que ela religiosamente carregava: Técnicos Oficiais de Contas. Era contabilista.
Próxima paragem... Carolina Michaelis. Saí.
quarta-feira, maio 13, 2009
.estórias urbanas: as mulheres e as aves canoras
margarida eufémia, vivia no 2º esquerdo do prédio das portadas brancas. saía todos os dias para o trabalho, gingona e bem disposta, a ouvir a canção que um tal de melro lhe cantava frequentemente. embrulhada pelo chilrear, aquecia o peito e cantava um sorriso infinito, que fazia desabrochar todas a flores por que passava.
a sra d. vitória, dona do quiosque lá do bairro, dizia, sempre que via margarida eufémia a passar nesta figura, que o melro que ela ouvia cantar era um bandido e que mais dia menos dia, margarida eufémia iria passar na rua de lágrima no canto do olho, fazendo murchar todas as flores que encontrasse na rua e que o seu coração iria definhar de tristeza... mas margarida, alheia a tudo, continuava na sua nuvem a passear-se pelo bairro, exibindo a sua felicidade, para todos os seus vizinhos, e contagiando a atmosfera circundante...
um dia, margarida saiu do seu prédio, com outro ar, um ar mais decidido, mais assente no chão. A sra d. vitória desconfiou logo... O melro já tinha feito das suas vadiagens... Não resistiu e perguntou a margarida: "Então, guidinha? Como vai o melro?" ao que margarida eufémia respondeu: "melro? eu agora tenho um colibri"
a sra d. vitória pensou para si mesma, que no tempo dela as moças não tinham esta sorte... se ela soubesse o que hoje sabe, se calhar não estaria com o mesmo pardal há 25 anos, sempre gostou mais de piriquitos.
domingo, maio 10, 2009
.estória na cidade: esferovite
com os papéis na mão, retraíram-se os músculos no coração e no lugar comum pequeno e asfixiante, enquanto o trânsito aquecia a cidade.
depois, o tempo e a memória criaram a bifurcação volátil do anterior sentir e a única coisa que ficou, foram bolas de sabão.
agora, o horizonte está livre de toda a geometria sinuosa dos velhos edifícios. é tempo de projectar a nova cidade... no esferovite.
terça-feira, abril 28, 2009
sábado, abril 25, 2009
.estórias urbanas
sempre caminhou na rua com a carga do corpo na mala ruidosa, no asfalto negro de chumbo. apenas quando a luz era parca e crua, negra e funda, caminhava ouvindo apenas o ruído das rodas, que eram o chão da sua cabeça e o poço do seu pesar. a cabeça, coberta pelo boné roído pelo tempo, cabisbaixa e obesa de melancolia, seguia em frente, obrigando o corpo a imergir na negritude da cidade.
a luz ao longe nas casas altas e paralelipipédicas e o vento a zumbir a velha canção.
a cidade era a casa.
quarta-feira, abril 22, 2009
terça-feira, abril 21, 2009
quarta-feira, abril 15, 2009
.estar só e com sede
chegara a casa de mais uma noite quente e boémia, com pitadas de arejo por um lado e, por outro, um je ne sais quoi de melancolia e despedida. Por isso, nessa noite, enfim, gelei-me com a alegria parva do 1€ por um fino e perdi a conta.
a casa esperava-me só, com as três assoalhadas vazias, o chão de granito polido da entrada frio, o eco da minha presença a reflectir-se nas paredes pastel e a torneira de sede a encher-me o copo de água, repetidamente, para que no dia seguinte, a cabeça não continuasse a andar à roda ou em alta pressão.
concentrada no que pensava e no que havia para sentir, fui interrompida por um som seco e forte atrás de mim. parei e hirta virei-me para trás. novamente, PACK!, olhos esbugalhados, braços junto ao corpo, pescoço para trás, paragem respiratória. tentei identificar com o olhar a origem do som e dividi-me entre o frigorífico e a porta da lavandaria, com janela para o exterior, do lado esquerdo do frigorífico.
será que alguém tinha trepado 4 andares pelo tubo das águas pluviais e entrado pela janela minúscula? ou será que o meu frigorífico tem problemas de coluna e estava a ter uma massagem chinesa feita pelos anõezinhos chineses do líquido congelante?
a casa esperava-me só, com as três assoalhadas vazias, o chão de granito polido da entrada frio, o eco da minha presença a reflectir-se nas paredes pastel e a torneira de sede a encher-me o copo de água, repetidamente, para que no dia seguinte, a cabeça não continuasse a andar à roda ou em alta pressão.
concentrada no que pensava e no que havia para sentir, fui interrompida por um som seco e forte atrás de mim. parei e hirta virei-me para trás. novamente, PACK!, olhos esbugalhados, braços junto ao corpo, pescoço para trás, paragem respiratória. tentei identificar com o olhar a origem do som e dividi-me entre o frigorífico e a porta da lavandaria, com janela para o exterior, do lado esquerdo do frigorífico.
será que alguém tinha trepado 4 andares pelo tubo das águas pluviais e entrado pela janela minúscula? ou será que o meu frigorífico tem problemas de coluna e estava a ter uma massagem chinesa feita pelos anõezinhos chineses do líquido congelante?
fiquei estática, com vontade de fugir porta fora, pois, nessa altura tanto me pareceu razoável a teoria do ladrão trepador, como a das massagens do líquido congelante... a única solução para esta chave dicotómica seria abrir a porta da lavandaria de rompante, com o meu fato de super-mulher e, se desse de caras com um ladrão, eliminá-lo com o meu super poder de super-mulher, que seria, talvez, a transmissão em decibéis dolorosos da dolorosa música do andré sardet.
no entanto, não sei se foi da torneira que me encheu de sede, se foi da fraqueza que por vezes se me dá nas pernas, continuei estática, gelada, cheia de medo, a olhar ora para o frigorífico, ora para a porta da lavandaria. não sei quanto tempo assim passei, mas achei que a solução passava por sair da cozinha, fechar a porta da cozinha, fechar a porta do corredor, enfiar-me na cama, com a porta do quarto bem fechada. depois de dormir, saberia lidar ou com o ladrão trepador ou com a fisioterapia do frigorífico.
no entanto, não sei se foi da torneira que me encheu de sede, se foi da fraqueza que por vezes se me dá nas pernas, continuei estática, gelada, cheia de medo, a olhar ora para o frigorífico, ora para a porta da lavandaria. não sei quanto tempo assim passei, mas achei que a solução passava por sair da cozinha, fechar a porta da cozinha, fechar a porta do corredor, enfiar-me na cama, com a porta do quarto bem fechada. depois de dormir, saberia lidar ou com o ladrão trepador ou com a fisioterapia do frigorífico.
terça-feira, abril 07, 2009
.salmoura
é ali, ao pé das ondas e das rochas que aqueço a areia, enquanto observo o horizonte melancólico e linear que me separa de mim.
escuto as ondas e apago a distância, enquanto desfio novelos e cores e formas.
é ali, naquele espaço cheio de espaço, que me quero aquecer, enquanto o tempo passa constante e anacrónico de mim.
escuto as ondas e apago a distância, enquanto desfio novelos e cores e formas.
é ali, naquele espaço cheio de espaço, que me quero aquecer, enquanto o tempo passa constante e anacrónico de mim.
terça-feira, março 31, 2009
.primavera minimalista
ao primeiro raio de sol, juntaram-se outros fotões, aglutinando-se. reciprocamente atraídos, aumentaram a intensidade do primeiro raio de sol, formando o segundo, o terceiro, o quarto... raios de sol.
olhares tímidos e intencionais.
dizem por aí que chegou a Primavera.
olhares tímidos e intencionais.
dizem por aí que chegou a Primavera.
segunda-feira, março 23, 2009
.tu?
sei lá, se calhar não, mas tenho a certeza que sim. amanhã, quem sabe, acho que sim, mas também pode não ser, embora saiba perfeitamente que sim.
está sempre na minha cabeça e o coração quase que sai da boca, mas se calhar isso é das alergias ou da música que está a passar no ipod ou então tenho que ir ao cardiologista, analisar o meu coração numa máquina para chegar mais rapidamente à conclusão de que o coração não deixa de ser só uma máquina que bombeia o sangue.
eu sei porquê, não vale a pena pensar mais nisto, aliás, devia era estar a pensar em coisas mais importantes como a crise financeira, o desemprego, a desigualdade social, mas tu...
está sempre na minha cabeça e o coração quase que sai da boca, mas se calhar isso é das alergias ou da música que está a passar no ipod ou então tenho que ir ao cardiologista, analisar o meu coração numa máquina para chegar mais rapidamente à conclusão de que o coração não deixa de ser só uma máquina que bombeia o sangue.
eu sei porquê, não vale a pena pensar mais nisto, aliás, devia era estar a pensar em coisas mais importantes como a crise financeira, o desemprego, a desigualdade social, mas tu...
quarta-feira, março 18, 2009
.a crise do almoço na escola
Era o intervalo de almoço na Escola EB2,3 de Aldoar, escola essa que abrangia todas as classes sociais possíveis e imaginárias, formando um caldo social que nem sempre era saboroso aos meninos considerados betinhos. Mas à hora de almoço não havia cá conflitos, já estava acordado de antemão, que a translocação geográfica seria para o famoso luky luke, estabelecimento que vendia uma variedade incrível de gomas e que aguçava o apetite a todos os alunos da escola. Durante o percurso, o posicionamento na fila era importante. Quem fosse à frente, era atendido primeiro, sim, isso é óbvio, mas não era só esse o factor importante para o posicionamento... No meio tinham que ir os betinhos, esses é que tinham dinheiro, a gunada ía em filas laterais, tal qual escolta policial, a ameaçar os betinhos que se não tivessem 3 chiclas gorilas, 4 línguas de morango e 5 almofadas, íam ter uma esperinha quando saíssem do luky luke.
À hora de almoço, os donos do luky luke esfregavam as mãos de contentamento por ver tanta clientela a comprar doces que provocam cáries e sobre-excitamento da criançada, já por si inquieta, da Escola EB2,3. E a essa hora, todas as caixinhas de gomas e chiclas ficavam vazias, quem tentasse ir lá depois, era certinho, já não havia nada!
Chegada a escolta do luky luke ao recreio da escola, este enchia-se de meninos com línguas azuis,roxas, de risadas, de gula... e a cantina da escola, com refeições metodicamente calculadas para satisfazer as necessidades nutricionais dos meninos de forma saudável, vazia.
O stôr lucas, presidente do conselho directivo, intrigado com esta situação, iniciou a sua investigação, porque raio andava a cantina vazia e para onde ía aquela romaria de alunos. Ora pois bem, quando descobriu o que o luky luke andava a vender às crianças e que estas saíam da escola, percorrendo caminhos altamente perigosos para a sua segurança, iniciou uma campanha anti luky luke. No dia seguinte todos os professores na aula avisaram: não é permitido sair da escola durante a hora do almoço. Só com autorização prévia dos Pais!
No entanto, chegada a hora do almoço, todos os alunos dirigiram-se para o portão da escola, fechado, para verificar se não havia mesmo escapatória... Não havia mesmo como fugir...!
Rumo à cantina e à comida sem açucar, os alunos cabisbaixos da EB2,3 de Aldoar voltaram à velha rotina que, em comparação com as gomas coloridas, era cinzenta. Almoço com o mocho, o rato, o china e o coveiro a massacrar um betinho qualquer, a saladinha, a sopinha...
O luky luke entretanto fechou, ficou sem negócio.
À hora de almoço, os donos do luky luke esfregavam as mãos de contentamento por ver tanta clientela a comprar doces que provocam cáries e sobre-excitamento da criançada, já por si inquieta, da Escola EB2,3. E a essa hora, todas as caixinhas de gomas e chiclas ficavam vazias, quem tentasse ir lá depois, era certinho, já não havia nada!
Chegada a escolta do luky luke ao recreio da escola, este enchia-se de meninos com línguas azuis,roxas, de risadas, de gula... e a cantina da escola, com refeições metodicamente calculadas para satisfazer as necessidades nutricionais dos meninos de forma saudável, vazia.
O stôr lucas, presidente do conselho directivo, intrigado com esta situação, iniciou a sua investigação, porque raio andava a cantina vazia e para onde ía aquela romaria de alunos. Ora pois bem, quando descobriu o que o luky luke andava a vender às crianças e que estas saíam da escola, percorrendo caminhos altamente perigosos para a sua segurança, iniciou uma campanha anti luky luke. No dia seguinte todos os professores na aula avisaram: não é permitido sair da escola durante a hora do almoço. Só com autorização prévia dos Pais!
No entanto, chegada a hora do almoço, todos os alunos dirigiram-se para o portão da escola, fechado, para verificar se não havia mesmo escapatória... Não havia mesmo como fugir...!
Rumo à cantina e à comida sem açucar, os alunos cabisbaixos da EB2,3 de Aldoar voltaram à velha rotina que, em comparação com as gomas coloridas, era cinzenta. Almoço com o mocho, o rato, o china e o coveiro a massacrar um betinho qualquer, a saladinha, a sopinha...
O luky luke entretanto fechou, ficou sem negócio.
terça-feira, março 10, 2009
.serviços
eu sempre gostei de tomar café a seguir ao almoço e quando não o posso tomar, ando o dia todo com trombas para o meu chefe.
tudo bem, trabalhar e atender os clientes e fazer crescer o negócio, é a prioridade, e, por isso, às vezes não há tempo para tomar café, mas mais 5 minutinhos, menos 5 minutinhos, é assim tão relevante? vamos mesmo perder algum cliente? eu acho que perdemos muitos mais quando vou para o balcão com a cabeça pesada, porque, cá entre nós, eu sou mestre a conquistar os clientes, mas sem café depois do almoço, tarde de trombas... não consigo vender o meu sorriso.
agora... quando eu tomo café a seguir ao almoço, deviam ver esta loja, cheia de clientes a gastar dinheiro, a ir embora de sorriso na boca. é por isso que eles voltam sempre, eu, no fundo, vendo o meu sorriso...
se ao menos o meu chefe pusesse aqui uma máquina de café...!
tudo bem, trabalhar e atender os clientes e fazer crescer o negócio, é a prioridade, e, por isso, às vezes não há tempo para tomar café, mas mais 5 minutinhos, menos 5 minutinhos, é assim tão relevante? vamos mesmo perder algum cliente? eu acho que perdemos muitos mais quando vou para o balcão com a cabeça pesada, porque, cá entre nós, eu sou mestre a conquistar os clientes, mas sem café depois do almoço, tarde de trombas... não consigo vender o meu sorriso.
agora... quando eu tomo café a seguir ao almoço, deviam ver esta loja, cheia de clientes a gastar dinheiro, a ir embora de sorriso na boca. é por isso que eles voltam sempre, eu, no fundo, vendo o meu sorriso...
se ao menos o meu chefe pusesse aqui uma máquina de café...!
segunda-feira, março 09, 2009
.és assim
estou exausta, não porque estive a correr uma maratona ou a trabalhar o dia inteiro, mas porque estive em ensaio do côro.
o cansaço de um ensaio exigente é diferente de todos os outros cansaços e creio que é por implicar uma actividade cerebral e corporal tão complexa, que rebenta com a nossa energia de uma forma muito profunda, em nada semelhante com o cansaço de uma época de exames, de treino físico exigente ou de muitas horas de trabalho.
o cansaço depois de um concerto exigente é quase inebriante, deixa-me desligada mental e fisicamente, trôpega na minha expressão facial que luta, com olhos semi-cerrados e vermelhos, costas curvas e cabeça pesada, por ser agradável para com o meio externo. se deixo que os olhos fechem durante mais do que 10 segundos, a minha cabeça ouve linhas melódicas, harmonias, ritmos, timbres... o corpo sente as vibrações dos decibéis, as frequências dos sons e tudo isso transforma-se em mais cansaço.
música... és assim.
o cansaço de um ensaio exigente é diferente de todos os outros cansaços e creio que é por implicar uma actividade cerebral e corporal tão complexa, que rebenta com a nossa energia de uma forma muito profunda, em nada semelhante com o cansaço de uma época de exames, de treino físico exigente ou de muitas horas de trabalho.
o cansaço depois de um concerto exigente é quase inebriante, deixa-me desligada mental e fisicamente, trôpega na minha expressão facial que luta, com olhos semi-cerrados e vermelhos, costas curvas e cabeça pesada, por ser agradável para com o meio externo. se deixo que os olhos fechem durante mais do que 10 segundos, a minha cabeça ouve linhas melódicas, harmonias, ritmos, timbres... o corpo sente as vibrações dos decibéis, as frequências dos sons e tudo isso transforma-se em mais cansaço.
música... és assim.
quarta-feira, março 04, 2009
.eu coro tanto
sempre me denunciaram, vermelhas, pouco circunscritas e pouco contidas, as minhas bochechas mostram sempre o que eu sinto.
já fiz várias tentativas para as apagar. uma consistiu na tentativa de desligar as sinapses que ligam o coração às bochechas. quando experimentei, a ansiedade, o esforço e a pressão que senti, fizeram desenvolver em mim o medo de parecer fria e falsa, que por sua vez, e ajudada pela adrenalina, fez com que as minhas bochechas inchassem de vermelho. houve relatos, nesse dia, de um astronauta, que conta que da lua conseguiu ver um ponto vermelho, desconhecido, situado em Portugal.
uma outra tentativa minha, já experimentada mais do que uma vez, foi a de cobrir a minha cara com base e que consistia no seguinte ritual: primeiro hidratava a minha face com cremes, depois aplicava a base. conseguia permanecer com cara de boneca de porcelana durante... 10 minutos, pois mais coisa, menos coisa, as bochechas invadiam o território à maquilhagem espessa e opaca, e o vermelho aparecia com todo o seu vigor, anunciando a sua conquista em território hostil.
também tentei ter o cabelo suficientemente comprido para tapar as bochechas, mas isso implicou vários hematomas, traumatismos e afins, dado que o cabelo cobria também os olhos.
rendi-me a elas e ao que elas me fazem. rendi-me, também ao coração, a cabeça não comanda nada...!
já fiz várias tentativas para as apagar. uma consistiu na tentativa de desligar as sinapses que ligam o coração às bochechas. quando experimentei, a ansiedade, o esforço e a pressão que senti, fizeram desenvolver em mim o medo de parecer fria e falsa, que por sua vez, e ajudada pela adrenalina, fez com que as minhas bochechas inchassem de vermelho. houve relatos, nesse dia, de um astronauta, que conta que da lua conseguiu ver um ponto vermelho, desconhecido, situado em Portugal.
uma outra tentativa minha, já experimentada mais do que uma vez, foi a de cobrir a minha cara com base e que consistia no seguinte ritual: primeiro hidratava a minha face com cremes, depois aplicava a base. conseguia permanecer com cara de boneca de porcelana durante... 10 minutos, pois mais coisa, menos coisa, as bochechas invadiam o território à maquilhagem espessa e opaca, e o vermelho aparecia com todo o seu vigor, anunciando a sua conquista em território hostil.
também tentei ter o cabelo suficientemente comprido para tapar as bochechas, mas isso implicou vários hematomas, traumatismos e afins, dado que o cabelo cobria também os olhos.
rendi-me a elas e ao que elas me fazem. rendi-me, também ao coração, a cabeça não comanda nada...!
terça-feira, março 03, 2009
.jazz mood
chegou num fim de tarde solarengo, enquanto as flores apanhavam o primeiro sol de Inverno e as nuvens, preguiçosas, ficavam longe. chegou para ficar, intermitente e constante.
os olhos bem fechados, mostraram-me um sentir já conhecido e, enquanto incubava as memórias, o coração tornou-se um dínamo ampliado pela ansiedade...
agora que já esperei, observo calma e silenciosamente a dispersão das sombras e das noites longas.
os olhos bem fechados, mostraram-me um sentir já conhecido e, enquanto incubava as memórias, o coração tornou-se um dínamo ampliado pela ansiedade...
agora que já esperei, observo calma e silenciosamente a dispersão das sombras e das noites longas.
quinta-feira, fevereiro 19, 2009
.eu e as beatas
cada uma com o seu puxo, daqueles que as mulheres da aldeia costumam usar, a andar de metro, no porto.
não paravam de ter aquela conversa típica de mundo pequeno, em que a vida dos seus filhos é o único tema que conseguem ter e, de preferência, provando que os seus filhos são os melhores do mundo e que vão muito bem na vida, graças a deus, recalcando os filhos das outras amigas, que vão bem, mas não chega a tanto! claro que o discurso moral não podia faltar, como se não houvessem telhados de vidro, discurso esse que as ruborizava e encandescia, tantas eram as vezes que abanavam a mão, como se de um leque se tratasse sempre que mencionavam isto ou aquilo...!
pequeninas, com as pernas a flutuar no metro, hipnotizaram a minha atenção, como se eu estivesse a ver um episódio da minha infância. nessa altura, vi muitas mulheres como aquelas. eram avós ou mães dos meus colegas da escola, mulheres essas que nasceram bem longe do Porto e que para cá vieram à procura de uma vida melhor. tive, inclusivé uma Professora Primária exactamente assim, com aquele puxo, aquela fisionomia e aquela fé católica cega, a D. Rosa, que olhava para mim de lado, porque eu era a filha do Sr Dr e não andava na catequese.
acho que uma vez, a D. Rosa, chamou os meus Pais, numa tentativa de espalhar a fé sobre o meu lar e salvar as nossas almas. o puxo, a fisionomia e o cheiro de beata não os convenceu. 1 ano mais tarde, a D. Rosa deixou de ser Professora lá na Escola. parece que eu e os meus Pais não tínhamos sido os únicos a sofrer a pressão evangelizadora da D. Rosa, Directora da minha Escola Primária, por sinal, pública. lembro-me como foi libertador ter que deixar de fingir que sabia rezar no início de cada aula.
foi um alívio sair do metro e deixar de ter aquelas figurinhas à minha frente, não sei porquê, isso fez-me voltar a sentir exactamente o mesmo que senti quando pude deixar de fingir na minha Escola.
não paravam de ter aquela conversa típica de mundo pequeno, em que a vida dos seus filhos é o único tema que conseguem ter e, de preferência, provando que os seus filhos são os melhores do mundo e que vão muito bem na vida, graças a deus, recalcando os filhos das outras amigas, que vão bem, mas não chega a tanto! claro que o discurso moral não podia faltar, como se não houvessem telhados de vidro, discurso esse que as ruborizava e encandescia, tantas eram as vezes que abanavam a mão, como se de um leque se tratasse sempre que mencionavam isto ou aquilo...!
pequeninas, com as pernas a flutuar no metro, hipnotizaram a minha atenção, como se eu estivesse a ver um episódio da minha infância. nessa altura, vi muitas mulheres como aquelas. eram avós ou mães dos meus colegas da escola, mulheres essas que nasceram bem longe do Porto e que para cá vieram à procura de uma vida melhor. tive, inclusivé uma Professora Primária exactamente assim, com aquele puxo, aquela fisionomia e aquela fé católica cega, a D. Rosa, que olhava para mim de lado, porque eu era a filha do Sr Dr e não andava na catequese.
acho que uma vez, a D. Rosa, chamou os meus Pais, numa tentativa de espalhar a fé sobre o meu lar e salvar as nossas almas. o puxo, a fisionomia e o cheiro de beata não os convenceu. 1 ano mais tarde, a D. Rosa deixou de ser Professora lá na Escola. parece que eu e os meus Pais não tínhamos sido os únicos a sofrer a pressão evangelizadora da D. Rosa, Directora da minha Escola Primária, por sinal, pública. lembro-me como foi libertador ter que deixar de fingir que sabia rezar no início de cada aula.
foi um alívio sair do metro e deixar de ter aquelas figurinhas à minha frente, não sei porquê, isso fez-me voltar a sentir exactamente o mesmo que senti quando pude deixar de fingir na minha Escola.
domingo, fevereiro 15, 2009
.eu queria ser mais Músico
Sempre pensei que, para ter um pensamento complexo, este deveria ser holístico, através da união das Artes, da Ciência e da Engenharia. Este espaço-continum permitiria a interacção entre os diversos campos do saber, resultando na possibilidade de me tornar numa pessoa capaz de absorver, analisar e compreender o mundo, o que, em todos os campos da minha vida e na minha interacção com o meu meio, iria reflectir-se positivamente, com certeza.
Em que é que o Tratado de Bolonha me impede de perseguir este meu objectivo pessoal?
As directrizes relativas aos métodos de avaliação universitária deste tratado, implicam um dispêndio de tempo e de energia contínuos ao longo de todo o ano lectivo, impedindo-me a mim e a outros estudantes universitários de conseguir cumprir outros objectivos pessoais, isolando-nos numa bolha académica disfarçada de competente, cumprindo os desígnios da standardização mental e intelectual dos estudantes europeus: hoje em dia, o que diferencia um estudante de Engenharia Mecânica de Portugal de um da Alemanha? A língua-mãe?
Eu estava a frequentar o 5º Grau de Piano e, apesar de ter iniciado o ano lectivo a todo o vapor, finalmente ía atingir este meu objectivo, a minha energia teve que ser absorvida pela quantidade de trabalho que a faculdade me impunha, não restando tempo algum para qualquer outro tipo de actividade e, embora me seja ensinado na faculdade que devemos procurar outros domínios do saber para que sejamos criativos e inovadores na nossa vida profissional, a própria faculdade é que nos retira essa possibilidade. Hoje em dia não posso ser exigente comigo própria, no que diz respeito ao estudo da Música, nem responder à exigência do estudo de piano mais rigoroso e exigente. Sobra-me uma possibilidade: estudar música de modo superficial, ideia que não me satisfaz e que coloca as Escolas, como o Curso de Música Silva Monteiro, desprovidas de alunos ou então preenchidas com alunos frustrados, professores frustrados, gerando desmotivação de ambos os lados do espelho e, no fim, despe-se a nossa já inculta sociedade de diversidade e de conhecimento, elementos estes, que poderiam até, alimentar a tão falada crise financeira de criatividade!
Universidades exigentes, sim, isso orgulha-me, mas o conceito de Universidade vem da junção de duas palavras: conhecimento universal.
Em que é que o Tratado de Bolonha me impede de perseguir este meu objectivo pessoal?
As directrizes relativas aos métodos de avaliação universitária deste tratado, implicam um dispêndio de tempo e de energia contínuos ao longo de todo o ano lectivo, impedindo-me a mim e a outros estudantes universitários de conseguir cumprir outros objectivos pessoais, isolando-nos numa bolha académica disfarçada de competente, cumprindo os desígnios da standardização mental e intelectual dos estudantes europeus: hoje em dia, o que diferencia um estudante de Engenharia Mecânica de Portugal de um da Alemanha? A língua-mãe?
Eu estava a frequentar o 5º Grau de Piano e, apesar de ter iniciado o ano lectivo a todo o vapor, finalmente ía atingir este meu objectivo, a minha energia teve que ser absorvida pela quantidade de trabalho que a faculdade me impunha, não restando tempo algum para qualquer outro tipo de actividade e, embora me seja ensinado na faculdade que devemos procurar outros domínios do saber para que sejamos criativos e inovadores na nossa vida profissional, a própria faculdade é que nos retira essa possibilidade. Hoje em dia não posso ser exigente comigo própria, no que diz respeito ao estudo da Música, nem responder à exigência do estudo de piano mais rigoroso e exigente. Sobra-me uma possibilidade: estudar música de modo superficial, ideia que não me satisfaz e que coloca as Escolas, como o Curso de Música Silva Monteiro, desprovidas de alunos ou então preenchidas com alunos frustrados, professores frustrados, gerando desmotivação de ambos os lados do espelho e, no fim, despe-se a nossa já inculta sociedade de diversidade e de conhecimento, elementos estes, que poderiam até, alimentar a tão falada crise financeira de criatividade!
Universidades exigentes, sim, isso orgulha-me, mas o conceito de Universidade vem da junção de duas palavras: conhecimento universal.
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