"Casa roubada, trancas à porta"
Era o que ecoava na cabeça da Sra D. Estefânia, que vivia há mais de 45 anos naquela casa e coisa como esta nunca tinha acontecido.
Tinha perdido o seu marido há 6 meses e tentava pensar no que ele lhe diria numa situação destas, para distrair a sua vulnerabilidade, mas estava encandeada e a sua cabeça rodopiava velozmente à procura de um sentimento tranquilo, de um lugar familiar, de força... mas as pernas ficaram moles, o peito apertou, os olhos fecharam-se e a Sra D. Estefânia caiu ao chão e mergulhou num sonho quente e profundo.
A vizinha de baixo ouviu um estrondo vindo de cima e foi a correr afogueada pelas escadas acima, para ver o que tinha acontecido. Bateu com toda a força à porta da Sra D. Estefânia, a porta não se abria, o coração a 1000, a adrenalina a 200 fê-la bater com tanta força que abriu a porta e deparou-se com a Sra estendida no chão, com um sorriso incandescente. Tentou acordá-la, mas não conseguiu, chamou a ambulância e disseram: "Ela está a dormir....." E a vizinha disse: "Já não a via com este sorriso, desde que o seu marido morreu. Ela bem dizia, quando ficou viúva, que o marido tinha-lhe roubado o coração e que precisava de o trancar!"
segunda-feira, dezembro 29, 2008
sábado, dezembro 27, 2008
.Thanks a Latte
Every day I would wake up around 6.30am. I would be wearing a t-shirt though the thermometers outside would register 14F or even less.
Warmed by the heating of a super powerfull nation's energy, I would wear my warm clothes just before I'd leave home for another day in the lab.
If the wind was still I would go by foot to the lab, running away from the thin layers of ice that dangerously spoted the sidewalks. I would be listening to Sérgio Godinho in my ipod and thinking in the bunch of robotic lab work that I would have to accomplish that day(run markers in the families A619 and CI7, if the PCR's aren't working, I'll have to check the water, that's probably my problem in these last days........).
Mechanically walking I would arrive to the lab that had a tropical environment due to a problem in the lab heating and right after I announced my arrival I would go to Espresso Royale, in the SW corner of Goodwin with Lincoln to have a Tchai Latte.
Right after paying I would be waiting for that corny phrase of the barist: Hey, have a nice day and... Thanks a latte...!
Warmed by the heating of a super powerfull nation's energy, I would wear my warm clothes just before I'd leave home for another day in the lab.
If the wind was still I would go by foot to the lab, running away from the thin layers of ice that dangerously spoted the sidewalks. I would be listening to Sérgio Godinho in my ipod and thinking in the bunch of robotic lab work that I would have to accomplish that day(run markers in the families A619 and CI7, if the PCR's aren't working, I'll have to check the water, that's probably my problem in these last days........).
Mechanically walking I would arrive to the lab that had a tropical environment due to a problem in the lab heating and right after I announced my arrival I would go to Espresso Royale, in the SW corner of Goodwin with Lincoln to have a Tchai Latte.
Right after paying I would be waiting for that corny phrase of the barist: Hey, have a nice day and... Thanks a latte...!
domingo, dezembro 21, 2008
.linha dos sentidos?
PUM!
rugiu no miendro do canal auditivo e, ao chegar ao espaço, propagou-se sob duas formas anti-paralelas: expansão/contracção.
seguindo o caminho da memória, ambas fazem sentido coexistirem, mas é essa dualidade que impede a formulação da solução certa.
vai-se riscando e apagando no caderno todas as tentativas de resolução, quando se chegar à solução, haverão outras memórias, memórias essas que serão densas e menos caducas.
Fecho os olhos enquanto olho para a velocidade da paisagem e quando os sentidos se encontram, o meu coração viaja à velocidade da luz por todos os pontos do Universo que já visitei. Revisitar as estações de onde já parti, sem andar para a frente no tempo, indica o reflexo do que sou, hoje, aqui, e o que, em potencial serei amanhã, ali.
Já ouvi dizer... É simples!
rugiu no miendro do canal auditivo e, ao chegar ao espaço, propagou-se sob duas formas anti-paralelas: expansão/contracção.
seguindo o caminho da memória, ambas fazem sentido coexistirem, mas é essa dualidade que impede a formulação da solução certa.
vai-se riscando e apagando no caderno todas as tentativas de resolução, quando se chegar à solução, haverão outras memórias, memórias essas que serão densas e menos caducas.
Fecho os olhos enquanto olho para a velocidade da paisagem e quando os sentidos se encontram, o meu coração viaja à velocidade da luz por todos os pontos do Universo que já visitei. Revisitar as estações de onde já parti, sem andar para a frente no tempo, indica o reflexo do que sou, hoje, aqui, e o que, em potencial serei amanhã, ali.
Já ouvi dizer... É simples!
quarta-feira, dezembro 17, 2008
.e quando tudo parecia arder
dores suadas e dormentes bloqueavam o cérebro, desfasadas do espaço que rodeava o corpo doente, frustrado e inerte, que recebendo estímulos tecnológicos virais com teclas, botões e comandos que não comandavam, comandava as sinapses nervosas a tremer e a conduzir o vírus lacrimal ao seu porto. de repente tudo estava em chamas e mais uma vez teria que colher cinzas e, mais uma vez, não tinha espaço, tempo para fazer renascer a fénix tecnológica, autoritária emergir.
a solução era congelar a adrenalina, ligar o modo segurança e esperar, congeminando metodicamente todas as probabilidades de solução.....a processar.....a processar.....
e quando pensava eu que era um sistema isolado e por isso sem impacto no meu meio envolvente, é-me trazida, numa caixa, a solução e, apenas alguns minutos depois, veio até mim mais um remédio miraculoso.
quando tudo parecia arder, vieram os extintores, afogaram as chamas e cinzas, nem vê-las.
apaguei os vírus e sorri com muita força.
obrigada...:)
a solução era congelar a adrenalina, ligar o modo segurança e esperar, congeminando metodicamente todas as probabilidades de solução.....a processar.....a processar.....
e quando pensava eu que era um sistema isolado e por isso sem impacto no meu meio envolvente, é-me trazida, numa caixa, a solução e, apenas alguns minutos depois, veio até mim mais um remédio miraculoso.
quando tudo parecia arder, vieram os extintores, afogaram as chamas e cinzas, nem vê-las.
apaguei os vírus e sorri com muita força.
obrigada...:)
sexta-feira, dezembro 12, 2008
.a lista banal
o dia espera de mim mais uma epopeia de produtividade e emoções e, com o corpo cansado, os olhos semi-cerrados, a cabeça em hibernação, algo irá agir por mim e corresponder às expectativas de mais um dia, enquanto que eu finjo que descanso. prefiro acreditar que estou a repousar, de mansinho, na ondulação do dia, contrariando a sua ditadura mecânica e cerebral, mas sei que rompendo o limite da minha plasticidade, a minha imaginação volatiliza-se e direcciona-se para o engenho e o trabalho quadrado, geométrico e infinito.
e com isto crio uma lista de saudades banais: estar parada, ouvir, apenas, música, falar das coisas importantes, vêr um muito bom filme, dormir, sentar-me no sofá, contemplar, achar que o tempo dá para tudo, desligar a geometria d cérebro, pensar em cores...
pego na borracha e apago a lista. sei que amanhã ainda a saberei.
e com isto crio uma lista de saudades banais: estar parada, ouvir, apenas, música, falar das coisas importantes, vêr um muito bom filme, dormir, sentar-me no sofá, contemplar, achar que o tempo dá para tudo, desligar a geometria d cérebro, pensar em cores...
pego na borracha e apago a lista. sei que amanhã ainda a saberei.
quarta-feira, dezembro 10, 2008
.frio
é mais um dia. frio nos ossos, na pele, no sangue. sempre, sempre frio na côr, na janela, na roupa. e sempre com frio seguem dias e dias e dias com noites longas.
é mais um dia. frio na almofada, no banho quente, na comida. sempre, sempre frio na boca, nos minutos, no pensamento. e sempre com frio seguem os dias de noites longas.
é mais um dia. frio no sonho, na mesinha de cabeceira, na lareira acesa. sempre, sempre frio na ponta dos dedos, nas palavras, no presente. e sempre com frio seguem as noites longas destes dias.
é mais um dia. frio. sempre, sempre frio. e sempre com frio, segue.
é mais um dia. frio na almofada, no banho quente, na comida. sempre, sempre frio na boca, nos minutos, no pensamento. e sempre com frio seguem os dias de noites longas.
é mais um dia. frio no sonho, na mesinha de cabeceira, na lareira acesa. sempre, sempre frio na ponta dos dedos, nas palavras, no presente. e sempre com frio seguem as noites longas destes dias.
é mais um dia. frio. sempre, sempre frio. e sempre com frio, segue.
sexta-feira, dezembro 05, 2008
.a crise afecta tudo...!
- Hoje acordei e já não podia dos ossos. Já marquei consulta na caixa, porque se a humidade continua a moer-me os ossos desta maneira, chega o Natal e nem descascar batatas para o bacalhau vou conseguir.
- Ui, tu nem me fales dos ossos, tenho os bicos de papagaio a dar-me conta do juízo. Hoje, nem o almoço consegui botar ao lume, tive que pedir à minha sandrinha que fizesse um arrozinho branco com franguinho assado, que saiu insosso, vê lá...
- Lá em casa não posso ter folga... Se alguma vez eu não puder fazer o almoço, vai toda a gente almoçar fora, de certeza!
- Pois é filha, mas com a crise... Temos que ter mão curta nas despesas...!
- Lá nisso tens razão, mas felizmente lá em casa a crise bateu pouco à porta e ainda nos vamos governando mais ou menos, mas já não compro um bom salmonete, vê lá que está para mais de 15€ o Kg, há uns tempos, isto é uma pouca vergonha!
- Tu nem me fales... É mais crise de estômago do que de finanças!
- Ui, tu nem me fales dos ossos, tenho os bicos de papagaio a dar-me conta do juízo. Hoje, nem o almoço consegui botar ao lume, tive que pedir à minha sandrinha que fizesse um arrozinho branco com franguinho assado, que saiu insosso, vê lá...
- Lá em casa não posso ter folga... Se alguma vez eu não puder fazer o almoço, vai toda a gente almoçar fora, de certeza!
- Pois é filha, mas com a crise... Temos que ter mão curta nas despesas...!
- Lá nisso tens razão, mas felizmente lá em casa a crise bateu pouco à porta e ainda nos vamos governando mais ou menos, mas já não compro um bom salmonete, vê lá que está para mais de 15€ o Kg, há uns tempos, isto é uma pouca vergonha!
- Tu nem me fales... É mais crise de estômago do que de finanças!
quinta-feira, dezembro 04, 2008
.SELECT_DELETE_AAH!!
SELECT loucura, irritacao, vício
FROM Trabalho_Emocao
WHERE loucura = (SELECT MAX(loucura) FROM Trabalho_Emocao)
AND irritacao = (SELECT MAX(irritacao) FROM Trabalho_Emocao)
AND vício = (SELECT MAX(vício) FROM Trabalho_Emocao);
RUN (ai, ai, ai.....)
PLIM (aparece janela): MAX (loucura) not measurable, the program may collapse!
PLIIM (aparece janela outra vez): MAX(vício) it's bad for you, you should consider psychological counseling.
DELETE frases_irritantes, clichés
FROM natureza_condescendente ;
RUN command..............................................................................................................................................
Ah.... o silêncio....!!!
FROM Trabalho_Emocao
WHERE loucura = (SELECT MAX(loucura) FROM Trabalho_Emocao)
AND irritacao = (SELECT MAX(irritacao) FROM Trabalho_Emocao)
AND vício = (SELECT MAX(vício) FROM Trabalho_Emocao);
RUN (ai, ai, ai.....)
PLIM (aparece janela): MAX (loucura) not measurable, the program may collapse!
PLIIM (aparece janela outra vez): MAX(vício) it's bad for you, you should consider psychological counseling.
DELETE frases_irritantes, clichés
FROM natureza_condescendente ;
RUN command..............................................................................................................................................
Ah.... o silêncio....!!!
terça-feira, dezembro 02, 2008
.natureza imutável
todos os dias esperava pela chegada do meu pai a casa. com ele vinha a fantasia, o teatro, a brincadeira e o abrir da mente. criei o hábito de o ouvir ler mitologia grega de forma tão expressiva, que eu, pequenina, imaginava o olimpo, os deuses e os humanos daquela época com um grau de realismo tão intenso que me fez pensar, quando fui à Acrópole em Atenas, que eu já lá tinha estado...
não sabia, na altura, porque é que aquelas histórias que me fascinavam tanto, também fascinavam o meu pai, mas agora que me lembro delas vejo que afinal aquela fantasia, aquele teatro e aqueles enredos não são assim tão olímpicos, mas sim bem terrenos, facto que me faz pensar que o meu pai sabia que, deste modo, me estava a ensinar a perceber o mundo, pois a natureza do ser humano, essa, é imutável.
"Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam." in Segue o Teu Destino, Ricardo Reis
não sabia, na altura, porque é que aquelas histórias que me fascinavam tanto, também fascinavam o meu pai, mas agora que me lembro delas vejo que afinal aquela fantasia, aquele teatro e aqueles enredos não são assim tão olímpicos, mas sim bem terrenos, facto que me faz pensar que o meu pai sabia que, deste modo, me estava a ensinar a perceber o mundo, pois a natureza do ser humano, essa, é imutável.
"Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam." in Segue o Teu Destino, Ricardo Reis
segunda-feira, dezembro 01, 2008
.diálogo ecológico
enfim, os olhos ressacados de trabalho, a cabeça a bombar emoções e produtividade e o corpo a retrair-se do tempo ao mesmo tempo que a mente o expande.
de agora em diante, só as onomatopeias fazem sentido na verbalização, porque as palavras, essas, não servem para comunicar.
- gostas de ver o bruno nogueira a imitar a luciana abreu?
- hmm... mmm,mmm!!
e assim espelho as minhas intenções, de modo ruidoso e energeticamente eficiente e atrevo-me a dizer, assim com toda a displicência, que é uma comunicação bem amiga do ambiente, ouvi dizer que os tipos da Greenpeace não falam de outra maneira, não vá a formiga branca autóctone do Burnay desaparecer......
de agora em diante, só as onomatopeias fazem sentido na verbalização, porque as palavras, essas, não servem para comunicar.
- gostas de ver o bruno nogueira a imitar a luciana abreu?
- hmm... mmm,mmm!!
e assim espelho as minhas intenções, de modo ruidoso e energeticamente eficiente e atrevo-me a dizer, assim com toda a displicência, que é uma comunicação bem amiga do ambiente, ouvi dizer que os tipos da Greenpeace não falam de outra maneira, não vá a formiga branca autóctone do Burnay desaparecer......
sábado, novembro 29, 2008
.cozinha
o caril ardia enquanto os carros corriam ordeiros para a pressa das compras de natal. o néon de prata cobria os azulejos brancos e frios, enquanto o cantarolar constante de quem não tem pressa, soava fluido e quente. os estômagos roavam com a mesma tónica e o tempo, lento e tranquilo, construía cumplicidades ao som do crepitar do gás e do aroma que enchia o apetite de fome.
essa janta, não fica pronta?
essa janta, não fica pronta?
quarta-feira, novembro 26, 2008
.vírus
não sei se também vos acontece, mas sabem aqueles dias em que se acorda com toda a melancolia e tristeza do mundo e, sem saber porquê... apenas se sente aquele bichinho triste e pesado, que nos carrega os olhos de água e sal de 5 em 5 segundos, nos faz fungar sistematicamente e se abate nos ombros moles e fracos, fazendo-nos curvar as costas e a cabeça e sem saber porquê...
são aqueles dias em que o futuro parece que pode ser melhor de um presente que até nem é mau, mas que acorda-me assim de vez em quando, sem saber porquê...
talvez sempre haja o vírus da melancolia e, apesar de todos os retrovirais sofisticados da mente, este, por vezes, tenha força para se manifestar.
daqui a pouco ou, no máximo amanhã, sei que os sintomas desaparecerão, mas agora não.
são aqueles dias em que o futuro parece que pode ser melhor de um presente que até nem é mau, mas que acorda-me assim de vez em quando, sem saber porquê...
talvez sempre haja o vírus da melancolia e, apesar de todos os retrovirais sofisticados da mente, este, por vezes, tenha força para se manifestar.
daqui a pouco ou, no máximo amanhã, sei que os sintomas desaparecerão, mas agora não.
terça-feira, novembro 25, 2008
.geografia
enquanto nos paralelos assimétricos e pardos passa uma sombra, o musgo colore o cinzento granítico. entre os paralelos, os carreiros de formiguinhas a percorrer os seus habituais caminhos, criam texturas, volumes e dinâmicas e a geometria do meu pé, sobre esta tela urbana, cola-se à paisagem, distraindo o meu olhar durante todo o caminho.
não consegui levantar o olhar até ter pisado uma estrutura metálica, asséptica e rolante do metro, que de imediato descolou-me da cidade e fez-me sentir que até podia estar em Hong Kong, porque aquela superfície que pisava não tinha nada.
não consegui levantar o olhar até ter pisado uma estrutura metálica, asséptica e rolante do metro, que de imediato descolou-me da cidade e fez-me sentir que até podia estar em Hong Kong, porque aquela superfície que pisava não tinha nada.
quinta-feira, novembro 20, 2008
.pó
1. incapaz de eliminar o pó dos seus móveis, sentava-se sózinha no sofá a viajar. visitava aquilo que pensava ter visitado e quando desembarcava de novo no seu sofá, o seu olhar caía para o pó que tinha limpo. com persistência voltava a limpar e, com a mesma persistência, verificava se as janelas estavam bem fechadas, mas... mal acabava de limpar o pó voltava!
2. sempre achou que o excesso de bibelots na decoração de sua casa é que faziam com que o pó por centímetro quadrado fosse tão grande. via a pobre coitada da mulher a limpar vezes consecutivas a casa, no entanto isso irritava-o, pois quando queria ser engolido pelo sofá depois de um dia de trabalho, ouvia e sentia o pano a passar pelas curvas dos móveis e pelas curvas dos bibelots de forma sistemática e obesa. pedia ajuda a Deus para que a sua boca não fosse grande e ao mesmo tempo desejava que aquele pó deixasse de cair ou então que os bibelots caíssem.
3. os bibelots caíram. o pó ficou.
2. sempre achou que o excesso de bibelots na decoração de sua casa é que faziam com que o pó por centímetro quadrado fosse tão grande. via a pobre coitada da mulher a limpar vezes consecutivas a casa, no entanto isso irritava-o, pois quando queria ser engolido pelo sofá depois de um dia de trabalho, ouvia e sentia o pano a passar pelas curvas dos móveis e pelas curvas dos bibelots de forma sistemática e obesa. pedia ajuda a Deus para que a sua boca não fosse grande e ao mesmo tempo desejava que aquele pó deixasse de cair ou então que os bibelots caíssem.
3. os bibelots caíram. o pó ficou.
quarta-feira, novembro 19, 2008
.fisiologia/filosofia da mente
Dostoiévski afirmou que quanto mais perspicaz e afiada for a nossa consciência, mais doentio e infeliz será o indivíduo que a possui.
E. Cioran (filósofo franco-húngaro) defendeu que a insónia é o resultado de uma consciência que explora, até ao limite, as suas dúvidas metafísicas.
É Hipertrofia da Consciência ou falta de seratonina?
É depois de dormir que exploro e absorvo o universo que me rodeia, é ao sonhar que o organizo, para que no dia seguinte possa voltar a absorver eficazmente todas as partículas que tento rodear. Todos os dias tento explorar toda a minha consciência, afiando-a, sendo isso parte do meu divertimento e parte do meu contentamento. À noite, durmo saciada todos os minutos que tenho e quando o despertador toca, prolongo a minha estadia entre os 2 mundos...
Repugno a ideia de que quem é insaciado e gosta de explorar as suas dúvidas metafísicas tem que ser obrigatoriamente um indivíduo infeliz e sem horas de sono. Esse cliché perigoso, atrai, inclusivé, pessoas que apenas são doentes e infelizes a um estatuto que deveras não têm. Se se cresce a exercitar o cérebro, é normal que esse exercício o conduza para os lugares a que foi treinado a ir, desafiando-o constantemente, sendo isso independente do estado emocional. Acho que todos nós conhecemos isso: estímulo.
E. Cioran (filósofo franco-húngaro) defendeu que a insónia é o resultado de uma consciência que explora, até ao limite, as suas dúvidas metafísicas.
É Hipertrofia da Consciência ou falta de seratonina?
É depois de dormir que exploro e absorvo o universo que me rodeia, é ao sonhar que o organizo, para que no dia seguinte possa voltar a absorver eficazmente todas as partículas que tento rodear. Todos os dias tento explorar toda a minha consciência, afiando-a, sendo isso parte do meu divertimento e parte do meu contentamento. À noite, durmo saciada todos os minutos que tenho e quando o despertador toca, prolongo a minha estadia entre os 2 mundos...
Repugno a ideia de que quem é insaciado e gosta de explorar as suas dúvidas metafísicas tem que ser obrigatoriamente um indivíduo infeliz e sem horas de sono. Esse cliché perigoso, atrai, inclusivé, pessoas que apenas são doentes e infelizes a um estatuto que deveras não têm. Se se cresce a exercitar o cérebro, é normal que esse exercício o conduza para os lugares a que foi treinado a ir, desafiando-o constantemente, sendo isso independente do estado emocional. Acho que todos nós conhecemos isso: estímulo.
terça-feira, novembro 18, 2008
.criativismo
Apesar da obscuridade económico-financeira que se reflecte num largo espelho social, as grandes escolas capitalistas, imperialistas e outras palavras importantes acabadas em "istas", querem esconder o reflexo ou, prefiro eu pensar, reverter a situação (o que de facto seria muito bom que acontecesse...).
Uma das soluções está no "alimentar" do bichinho criador que existe potencialmente dentro de cada um de nós, promovendo a multi-culturalidade, a integração de todos os colaboradores na geração de novas ideias e um esbatimento da hierarquia dentro das organizações.
Com toda esta horizontalidade e Sol brilhante dentro das organizações, a geração de ideias inovadoras por segundo é de facto fluida e múltipla o que, do ponto de vista do consumidor, pode criar novas ansiedades........
Ora vejamos o exemplo dos detergentes para a roupa... Actualmente, se eu quero comprar apenas UM detergente para a roupa deparo-me com o seguinte cenário: tenho detergente para roupa de côr, para roupa branca e para roupa preta. Decido-me por uma destas categorias e agora tenho que escolher qual dos aromas irei levar, pensando ao mesmo tempo que ao levar o detergente para roupa de côr, vou ficar com a roupa branca fluorescente e a roupa preta a tender para o verde azeitona. Com este complexo de culpa a martelar numa zona qualquer do cérebro, tenho agora que decidir se quero alfazema, alfazema silvestre, alfazema campestre, alfazema da cidade, alfazema do mar, alfazema da colina.... e ao percorrer todos estes aromas, forço o meu nariz a denunciar-me as diferenças e a ditar-me qual gosto mais, apesar de não notar diferença e do meu estado de oxigenação cerebral já se encontrar fortemente debilitada. No entanto, não me deixo vencer e escolho o alfazema do mar, que é para ver se ao menos o cheirinho poderá fazer-me retomar às minhas memórias de Verão...! Com o repique do sentimento de culpa para com a minha roupa branca e roupa preta, lá levo o detergente para roupa de côr (para também lavar a roupa branca e a roupa preta) com uma intoxicação e falta de oxigénio no cérebro. Juntando-se a estas variáveis, a ansiedade desta compra faz-me desejar não ter que voltar a esta decisão até um futuro bem distante.......
Porque perdi eu tempo com estes parágrafos...? Ora bem... se a criatividade nas organizações for alimentada, para que mais produtos inovadores estejam disponíveis, eu prevejo uma catástrofe pessoal em relação à tomada de decisão de compra de detergentes para a roupa, porque se inventarem mais categorias de produto, mais aromas e formas (pó, líquido) e lembrarem-se de desenhar novas embalagens, eu creio que há duas fortes possibilidades de acontecimentos: uma é eu ir à bancarrota por ter que levar toooodos os detergentes para a roupa que existem que é para não ter que lidar com esta ansiedade ou, então, voltar ao tempo do sabão macaco e lavar a roupa à mão, que por ser um pouco exigente, me poderá levar a não querer lavar roupa e a usar roupas descartáveis de hospital, o que, certamente, não iria favorecer a minha condição neste mundo, mas......
já não tinha que voltar a passar por aquilo.... ufff...!!!!!!!
Uma das soluções está no "alimentar" do bichinho criador que existe potencialmente dentro de cada um de nós, promovendo a multi-culturalidade, a integração de todos os colaboradores na geração de novas ideias e um esbatimento da hierarquia dentro das organizações.
Com toda esta horizontalidade e Sol brilhante dentro das organizações, a geração de ideias inovadoras por segundo é de facto fluida e múltipla o que, do ponto de vista do consumidor, pode criar novas ansiedades........
Ora vejamos o exemplo dos detergentes para a roupa... Actualmente, se eu quero comprar apenas UM detergente para a roupa deparo-me com o seguinte cenário: tenho detergente para roupa de côr, para roupa branca e para roupa preta. Decido-me por uma destas categorias e agora tenho que escolher qual dos aromas irei levar, pensando ao mesmo tempo que ao levar o detergente para roupa de côr, vou ficar com a roupa branca fluorescente e a roupa preta a tender para o verde azeitona. Com este complexo de culpa a martelar numa zona qualquer do cérebro, tenho agora que decidir se quero alfazema, alfazema silvestre, alfazema campestre, alfazema da cidade, alfazema do mar, alfazema da colina.... e ao percorrer todos estes aromas, forço o meu nariz a denunciar-me as diferenças e a ditar-me qual gosto mais, apesar de não notar diferença e do meu estado de oxigenação cerebral já se encontrar fortemente debilitada. No entanto, não me deixo vencer e escolho o alfazema do mar, que é para ver se ao menos o cheirinho poderá fazer-me retomar às minhas memórias de Verão...! Com o repique do sentimento de culpa para com a minha roupa branca e roupa preta, lá levo o detergente para roupa de côr (para também lavar a roupa branca e a roupa preta) com uma intoxicação e falta de oxigénio no cérebro. Juntando-se a estas variáveis, a ansiedade desta compra faz-me desejar não ter que voltar a esta decisão até um futuro bem distante.......
Porque perdi eu tempo com estes parágrafos...? Ora bem... se a criatividade nas organizações for alimentada, para que mais produtos inovadores estejam disponíveis, eu prevejo uma catástrofe pessoal em relação à tomada de decisão de compra de detergentes para a roupa, porque se inventarem mais categorias de produto, mais aromas e formas (pó, líquido) e lembrarem-se de desenhar novas embalagens, eu creio que há duas fortes possibilidades de acontecimentos: uma é eu ir à bancarrota por ter que levar toooodos os detergentes para a roupa que existem que é para não ter que lidar com esta ansiedade ou, então, voltar ao tempo do sabão macaco e lavar a roupa à mão, que por ser um pouco exigente, me poderá levar a não querer lavar roupa e a usar roupas descartáveis de hospital, o que, certamente, não iria favorecer a minha condição neste mundo, mas......
já não tinha que voltar a passar por aquilo.... ufff...!!!!!!!
sábado, novembro 08, 2008
.dúvida xpto
um braço atrapalhado noutro braço e o passado a fazer sombra no presente, queimando a vontade do à vontade.
entrelaçado o palpitar e a fuga, sempre racional, sempre emotiva, e, sempre, a música antiga de fundo, a despejar os medos, na novidade.
uma pausa com silêncio a menos no devir. e a tempo, a curiosidade a fazer ignição.
a curiosidade mata?
entrelaçado o palpitar e a fuga, sempre racional, sempre emotiva, e, sempre, a música antiga de fundo, a despejar os medos, na novidade.
uma pausa com silêncio a menos no devir. e a tempo, a curiosidade a fazer ignição.
a curiosidade mata?
segunda-feira, novembro 03, 2008
.arquivo de sentimentos
quando me questionam porque não escrevo com mais frequência, fico sempre um pouco constrangida... Eu própria acho que devia escrever mais...
...mas!
tenho em mim um sistema de memórias que se vão arquivando. a essas memórias tenho associados sentimentos vários: nebulosa sentimental! Para poder exprimir aquilo que tenho em potencial, preciso de tempo para catalogar a minha panóplia emocional, para depois me entregar a nem sei bem o quê, que me faz querer vir até aqui despejar nem sei bem porquê...
não é a melancolia, a saudade, o vírus do fado, a má sorte, o mau olhado, a fuga, o medo, o silêncio, a dor, o eterno "ai"... isso é que não é...!!!
talvez seja hipo-criatividade na escrita.
ou... hiper-criatividade na ausência de...!
"Toda a Paisagem não está em parte nenhuma." Bernardo Soares in Livro do Desassossego
...mas!
tenho em mim um sistema de memórias que se vão arquivando. a essas memórias tenho associados sentimentos vários: nebulosa sentimental! Para poder exprimir aquilo que tenho em potencial, preciso de tempo para catalogar a minha panóplia emocional, para depois me entregar a nem sei bem o quê, que me faz querer vir até aqui despejar nem sei bem porquê...
não é a melancolia, a saudade, o vírus do fado, a má sorte, o mau olhado, a fuga, o medo, o silêncio, a dor, o eterno "ai"... isso é que não é...!!!
talvez seja hipo-criatividade na escrita.
ou... hiper-criatividade na ausência de...!
"Toda a Paisagem não está em parte nenhuma." Bernardo Soares in Livro do Desassossego
quarta-feira, outubro 15, 2008
.ficções urbanas
no canto a fumar estava aquele fulano... aquele que segue a corrente abstractoactivista. diz que em breve será criado um botão mental que fará com que todas as pessoas sejam capazes de ver o mundo de forma abstracta e que isso irá tornar as pessoas mais activistas a nível economico-sócio-cultural-bio-energético.
a meio da sala, creio que vi o óculinhos, aquele que está sempre com a cabeça caída e com o olhar no chão. esse, acho que é daquele movimento... o rústico-liberal-tribal. acredita que as comunidades devem ser recolectoras e que as metrópoles são a metáfora do subdesenvolvimento e da negação das origens. ele diz que ouve o coração da terra a bater e que pode reinventar o fogo, a roda e criar um loft numa gruta. enquanto isso, vive num prédio e anda sempre à rasca de dinheiro para gasolina.
à varanda, estava aquele casal de engenheiros que olhava com desdém para o abstractoactivista e para o do movimento rústico-liberal-tribal. afinal de contas eles estão formatados para gerar e conceber cenas e coisas que representam o apogeu do desenvolvimento científico-intelectual da sociedade actual, vivendo na realidade e oferecendo soluções nesse contexto. estão a planear ir ao cambodja.
no sofá, estava a vegetariana, com o olhar fixo nos rissóis de carne que estavam pousados na mesa em frente. o seu olhar de desejo afastava-se das suas palavras de ordem. disse mais de 20x que não é justo comer carne, porque os animais, estão à partida, numa posição inferior ao Ser Humano e que a palidez da sua cara era genética, já a Bisavó Carminho era assim.
a meio da sala, creio que vi o óculinhos, aquele que está sempre com a cabeça caída e com o olhar no chão. esse, acho que é daquele movimento... o rústico-liberal-tribal. acredita que as comunidades devem ser recolectoras e que as metrópoles são a metáfora do subdesenvolvimento e da negação das origens. ele diz que ouve o coração da terra a bater e que pode reinventar o fogo, a roda e criar um loft numa gruta. enquanto isso, vive num prédio e anda sempre à rasca de dinheiro para gasolina.
à varanda, estava aquele casal de engenheiros que olhava com desdém para o abstractoactivista e para o do movimento rústico-liberal-tribal. afinal de contas eles estão formatados para gerar e conceber cenas e coisas que representam o apogeu do desenvolvimento científico-intelectual da sociedade actual, vivendo na realidade e oferecendo soluções nesse contexto. estão a planear ir ao cambodja.
no sofá, estava a vegetariana, com o olhar fixo nos rissóis de carne que estavam pousados na mesa em frente. o seu olhar de desejo afastava-se das suas palavras de ordem. disse mais de 20x que não é justo comer carne, porque os animais, estão à partida, numa posição inferior ao Ser Humano e que a palidez da sua cara era genética, já a Bisavó Carminho era assim.
quarta-feira, setembro 03, 2008
.anacronia
uma velha estremunhada bate com a bengala trôpega no chão paralelo, enquanto desfoca e foca o olhar para a veloz paisagem que corre à sua volta. Olha para os ponteiros do seu relógio e não compreende como é que o tempo que a envolve passa mais depressa do que o seu tempo - Talvez seja por causa dos computadores! - Pensa ela.
domingo, agosto 31, 2008
.mosquito vs eu
com as costas já curvadas, os olhos pesados e os pés arrastados, deitei-me na cama ansiosa pelo sono. este não vinha, apesar do cansaço, por isso peguei n' O Mistério da Estrada de Sintra e, após página e meia, o livro adormeceu-me calma e discretamente.
um zumbido contínuo e próximo entrou de rompante no meu sonho e o meu corpo, imediatamente, retraiu-se. no entanto, o zumbido tornou-se tão constante e presente que materializou-se: dei por mim a abrir os olhos, a encolher-me e a enrolar-me nos lençóis com toda a força, com o medo daquele zzZZZzz que voava à minha volta, tal qual ave de rapina esfomeada e ansiosa. eu, que tinha pelo menos cem vezes mais o tamanho do mosquito, em vez de enfrentá-lo e persegui-lo, fui-me encolhendo cada vez mais e mergulhando, em apneia, nos lençóis, autênticas muralhas do meu castelo, enquanto o meu predador continuava a pairar e a zumbir em torno de mim, com toda a confiança insecta. fosse eu uma pastilha de ezzalo ou o insecticida Dum Dum, e era bem mais corajosa e vencedora nesta luta.
o estado de apneia e de retracção muscular da adrenalina não estava a ajudar-me a lidar com o meu inimigo mosquito, mas o meu cérebro ao fazer 1000 permutações por segundo, encontrou uma solução diplomática. criei uma Suíça neutra no meu quarto ao acender o candeeiro: mosquito hipnotizado e silencioso, inês a dormir... ZZZzzzzZZZZZzzzzZZZZZ
um zumbido contínuo e próximo entrou de rompante no meu sonho e o meu corpo, imediatamente, retraiu-se. no entanto, o zumbido tornou-se tão constante e presente que materializou-se: dei por mim a abrir os olhos, a encolher-me e a enrolar-me nos lençóis com toda a força, com o medo daquele zzZZZzz que voava à minha volta, tal qual ave de rapina esfomeada e ansiosa. eu, que tinha pelo menos cem vezes mais o tamanho do mosquito, em vez de enfrentá-lo e persegui-lo, fui-me encolhendo cada vez mais e mergulhando, em apneia, nos lençóis, autênticas muralhas do meu castelo, enquanto o meu predador continuava a pairar e a zumbir em torno de mim, com toda a confiança insecta. fosse eu uma pastilha de ezzalo ou o insecticida Dum Dum, e era bem mais corajosa e vencedora nesta luta.
o estado de apneia e de retracção muscular da adrenalina não estava a ajudar-me a lidar com o meu inimigo mosquito, mas o meu cérebro ao fazer 1000 permutações por segundo, encontrou uma solução diplomática. criei uma Suíça neutra no meu quarto ao acender o candeeiro: mosquito hipnotizado e silencioso, inês a dormir... ZZZzzzzZZZZZzzzzZZZZZ
quarta-feira, junho 18, 2008
.é a inflação
ele e eu no balancé redondo e encrespado.
a força centrípeta anulou-se, a centrifuga igualou a unidade.
os dois caídos no chão, aos bocados.
trombose emocional!!
"- O que tens?
- Ahn?
- O que tens?
- É a inflação."
a força centrípeta anulou-se, a centrifuga igualou a unidade.
os dois caídos no chão, aos bocados.
trombose emocional!!
"- O que tens?
- Ahn?
- O que tens?
- É a inflação."
domingo, junho 15, 2008
.não sei
Não sei de nada nem de tudo um pouco. Sei que estou aqui sentada a escrever por que alguém (de quem eu gosto muito) pede por mais, aqui, no lugar de busca da minha terra do nunca.
Pensei que o melhor era escrever sobre a minha ausência de escrita.
Dissequei um pouco o meu corpo e senti o que o meu corpo sente, como se dele estivesse ausente, e, permiti-me por escassos instantes, observar-me de perto e de longe.
O que eu mais quero, é não sentir.
Desliguei-me automaticamente e, esfregando as mãos suadas na malha da ganga, o bater do coração ressoava rítmico e forte no espaço que tenho vindo a construir para o nada.
O nada confortável e pragmático, espaçoso e branco, luminoso e solitário que me deixa não sentir.
O nada tornou-se a minha recompensa e eu não quero abdicar dele hoje ou amanhã.
Escrever obriga-me a analisar, a sentir, a exercitar as emoções, a criar dinâmicas, a preencher os espaços, a explorar, a questionar........ Mas hoje ou amanhã, não sei escrever, não sei sentir, quero continuar em direcção ao meu ponto de fuga e evoluir aparalelamente do meu passado e, talvez quando já estiver cansada, sairei do nada com espaço para tudo.
"O peso de sentir. O peso de ter que sentir."
in Livro do Desassossego de Bernardo Soares
Pensei que o melhor era escrever sobre a minha ausência de escrita.
Dissequei um pouco o meu corpo e senti o que o meu corpo sente, como se dele estivesse ausente, e, permiti-me por escassos instantes, observar-me de perto e de longe.
O que eu mais quero, é não sentir.
Desliguei-me automaticamente e, esfregando as mãos suadas na malha da ganga, o bater do coração ressoava rítmico e forte no espaço que tenho vindo a construir para o nada.
O nada confortável e pragmático, espaçoso e branco, luminoso e solitário que me deixa não sentir.
O nada tornou-se a minha recompensa e eu não quero abdicar dele hoje ou amanhã.
Escrever obriga-me a analisar, a sentir, a exercitar as emoções, a criar dinâmicas, a preencher os espaços, a explorar, a questionar........ Mas hoje ou amanhã, não sei escrever, não sei sentir, quero continuar em direcção ao meu ponto de fuga e evoluir aparalelamente do meu passado e, talvez quando já estiver cansada, sairei do nada com espaço para tudo.
"O peso de sentir. O peso de ter que sentir."
in Livro do Desassossego de Bernardo Soares
terça-feira, abril 15, 2008
.cenários urbanos
um café envelhecido, preenchido com minúsculas mesas redondas e com minúsculas cadeiras redondas, iluminado com uma luz ténue e cinzenta, criadora de silhuetas esguias a quem observa a contra-luz. um forte aroma a café e o ruído do moínho da máquina expresso sempre a berrar.
atrás do balcão, um homem calvo, de bigode queimado nas pontas, barriga proeminente, ar rigoroso e sério, observa o seu estabelecimento e os seus empregados, tal qual uma ave de rapina cansada. encostado ao balcão, o empregado do café com o tabuleiro redondo debaixo do braço, a mão direita na algibeira a agitar os trocos, um olhar atrevido e um sorriso menos contido, para as meninas que entram e saem do café, e a cabeça, algures, entre as gotículas que formam as nuvens.
na mesa do canto direito, a senhora de cabelo loiro pintado e armado. os lábios rosa escuro, os olhos maquilhados e carregados, a pele brilhante e excedentária, as unhas arranjadas e pintadas de rosa adamascado e indumentária a condizer. olhar septagenário, concentrado no passado, costas curvas, por causa das memórias, e mãos trémulas, por saber o que todos os dias a espera.
a meio da sala, sisudo, grave, austero, de olhar introspectivo e inteligente, observa o fumo do seu cigarro, para se distrair de si próprio, o Sr Dr, que admira os jovens rapazes que entram no café, por detrás das lentes baças dos seus óculos geométricos. cruza e descruza as pernas, sempre que se entusiasma na sua observação. é sempre o último a ir ter com a mulher com quem casou.
atrás do balcão, um homem calvo, de bigode queimado nas pontas, barriga proeminente, ar rigoroso e sério, observa o seu estabelecimento e os seus empregados, tal qual uma ave de rapina cansada. encostado ao balcão, o empregado do café com o tabuleiro redondo debaixo do braço, a mão direita na algibeira a agitar os trocos, um olhar atrevido e um sorriso menos contido, para as meninas que entram e saem do café, e a cabeça, algures, entre as gotículas que formam as nuvens.
na mesa do canto direito, a senhora de cabelo loiro pintado e armado. os lábios rosa escuro, os olhos maquilhados e carregados, a pele brilhante e excedentária, as unhas arranjadas e pintadas de rosa adamascado e indumentária a condizer. olhar septagenário, concentrado no passado, costas curvas, por causa das memórias, e mãos trémulas, por saber o que todos os dias a espera.
a meio da sala, sisudo, grave, austero, de olhar introspectivo e inteligente, observa o fumo do seu cigarro, para se distrair de si próprio, o Sr Dr, que admira os jovens rapazes que entram no café, por detrás das lentes baças dos seus óculos geométricos. cruza e descruza as pernas, sempre que se entusiasma na sua observação. é sempre o último a ir ter com a mulher com quem casou.
quinta-feira, abril 03, 2008
.cús diabos!
petas, petas, petas com gargalhada 1 (do diafragma), gargalhada 2 (da vesícula biliar), gargalhada 3 (do cérebro). depois vem o sorriso 1 (simpático), sorriso 2 (condescendente), sorriso 3 (vê lá se te despachas).
acaba a sessão das petas e ao entrar no café, com o sorriso 1, solto uma gargalhada 2 e peço um bola de berlim.
eu queria uma água.
acaba a sessão das petas e ao entrar no café, com o sorriso 1, solto uma gargalhada 2 e peço um bola de berlim.
eu queria uma água.
terça-feira, abril 01, 2008
.todos os dias
"venha, venha, chegue à frente... não, mais um bocadinho, pode ir para trás...! está bom"
desligo o motor irritada com os faróis secos do ressacado, que observam obsessivamente os meus gestos. estes, a ele ditam se vai amealhar mais uns trocados para o seu pão e água. pão e água esses, que sugam todas suas células e secam o seu espírito de desejo.
tal qual um cão de rua, a rodear um saco de lixo que ficou esquecido há 6 dias no beco mais podre da cidade e que espera por lá encontrar, ao menos um osso, um osso que ainda cheire a carne. aquele mesmo cão que provoca a sensação de repugnância e pena em simultâneo, mas que, inevitavelmente, enxotamos para bem longe.
e assim, eu desejo enxotá-lo para não cheirá-lo, para não olhá-lo, para esquecê-lo... e não dou uns trocados para o seu pão e água. e fujo com medo.
desligo o motor irritada com os faróis secos do ressacado, que observam obsessivamente os meus gestos. estes, a ele ditam se vai amealhar mais uns trocados para o seu pão e água. pão e água esses, que sugam todas suas células e secam o seu espírito de desejo.
tal qual um cão de rua, a rodear um saco de lixo que ficou esquecido há 6 dias no beco mais podre da cidade e que espera por lá encontrar, ao menos um osso, um osso que ainda cheire a carne. aquele mesmo cão que provoca a sensação de repugnância e pena em simultâneo, mas que, inevitavelmente, enxotamos para bem longe.
e assim, eu desejo enxotá-lo para não cheirá-lo, para não olhá-lo, para esquecê-lo... e não dou uns trocados para o seu pão e água. e fujo com medo.
sábado, março 08, 2008
.fisioterapia não
já pensei em montar um negócio onde pudesse ganhar dinheiro à séria, que me desse a possibilidade de usar mais de 3 anéis em cada mão, 7 pulseiras cintilantes em cada pulso, carteiras brilhantes e visualmente complexas, botas de cano alto bicudas e com um salto de uns estontiantes 25cm, maquilhagem na cara com uma espessura mínima de 0,5mm, perfume de forte personalidade enjoativa, cabelo longo loiro com raízes pretas, um telemóvel assinado por uma marca de alta costura e um carro de alta cilindrada coupé.
ao construir-me neste cenário de sucesso cosmopolita, imediatamente apercebi-me que os 3 anéis em cada mão, mais as 7 pulseiras cintilantes em cada pulso provavelmente iriam provocar uma tendinite muito grave nos meus dedos e pulso, exigindo meses e meses de fisioterapia intensiva num centro de fisioterapia cheio de velhotas empenadas e de fisioterapeutas aborrecidos. as carteiras brilhantes e visualmente complexas provocariam acidentes de viação ao encandear os condutores e ao entreter visualmente os mesmos. esses acidentes levariam os condutores a ter que fazer fisioterapia, numa clínica que teria velhotas empenadas e fisioterapeutas aborrecidos. as botas de cano alto bicudas e com um salto de 25 cm iriam fazer nascer um anexo nos meus pés (os tais dos joanetes) e provavelmente fazer com que a circulação sanguínea nas minhas pernas ficasse estanque e para contrariar isso, teria que voltar à fisioterapia numa clínica com velhotas empenadas e fisioterapeutas aborrecidos. a maquilhagem de 0.5cm de espessura iria contribuir para o aumento da poluição atmosférica do planeta e para o aumento da incidência de alergias. o perfume de forte personalidade enjoativa, tal como a descrição o indica, iria enjoar. o cabelo longo loiro com raízes pretas provocar-me-ia uma queda de cabelo precoce. o telemóvel assinado por uma marca de alta costura iria atrair um ladrão armado com uma arma de fogo que assaltar-me-ia e fugiria com o meu carro de alta cilindrada coupé comprado a leasing. eu, atrapalhada com os meus longos cabelo loiros com raízes pretas, encandear-me-ia com a minha carteira, tropeçaria nos bicos dos meus sapatos, cairia no chão, partindo a minha clavícula e lesionando o meu tornozelo, tendo que voltar para a clínica de fisioterapia com as mesmas velhotas empenadas e os mesmos fisioterapeutas aborrecidos.
ai... até fiquei cansada só de imaginar, acho que vou-me ficar pela pobreza de espírito.
ao construir-me neste cenário de sucesso cosmopolita, imediatamente apercebi-me que os 3 anéis em cada mão, mais as 7 pulseiras cintilantes em cada pulso provavelmente iriam provocar uma tendinite muito grave nos meus dedos e pulso, exigindo meses e meses de fisioterapia intensiva num centro de fisioterapia cheio de velhotas empenadas e de fisioterapeutas aborrecidos. as carteiras brilhantes e visualmente complexas provocariam acidentes de viação ao encandear os condutores e ao entreter visualmente os mesmos. esses acidentes levariam os condutores a ter que fazer fisioterapia, numa clínica que teria velhotas empenadas e fisioterapeutas aborrecidos. as botas de cano alto bicudas e com um salto de 25 cm iriam fazer nascer um anexo nos meus pés (os tais dos joanetes) e provavelmente fazer com que a circulação sanguínea nas minhas pernas ficasse estanque e para contrariar isso, teria que voltar à fisioterapia numa clínica com velhotas empenadas e fisioterapeutas aborrecidos. a maquilhagem de 0.5cm de espessura iria contribuir para o aumento da poluição atmosférica do planeta e para o aumento da incidência de alergias. o perfume de forte personalidade enjoativa, tal como a descrição o indica, iria enjoar. o cabelo longo loiro com raízes pretas provocar-me-ia uma queda de cabelo precoce. o telemóvel assinado por uma marca de alta costura iria atrair um ladrão armado com uma arma de fogo que assaltar-me-ia e fugiria com o meu carro de alta cilindrada coupé comprado a leasing. eu, atrapalhada com os meus longos cabelo loiros com raízes pretas, encandear-me-ia com a minha carteira, tropeçaria nos bicos dos meus sapatos, cairia no chão, partindo a minha clavícula e lesionando o meu tornozelo, tendo que voltar para a clínica de fisioterapia com as mesmas velhotas empenadas e os mesmos fisioterapeutas aborrecidos.
ai... até fiquei cansada só de imaginar, acho que vou-me ficar pela pobreza de espírito.
segunda-feira, março 03, 2008
.extraordinary machine
(Since I came back from the US my brain works in both languages:Portuguese and English. Today I'm 100% in English mode)
Today while watching some fiona apple interviews on youtube, as I'm a huge fan of her since 1999, I saw a very exotic and artist-like songwriter and singer, full of unsecurities and with a lack in social skills... But then she said...
"I'm an extraordinary machine because no matter what I'll make the most of it..."
So, enough of this cheap talk and listen to the extraordinary machine by CLICKING HERE.
Enjoy it...:)
Today while watching some fiona apple interviews on youtube, as I'm a huge fan of her since 1999, I saw a very exotic and artist-like songwriter and singer, full of unsecurities and with a lack in social skills... But then she said...
"I'm an extraordinary machine because no matter what I'll make the most of it..."
So, enough of this cheap talk and listen to the extraordinary machine by CLICKING HERE.
Enjoy it...:)
quinta-feira, fevereiro 21, 2008
.o futuro decidi ao não decidir...ao congelar
Foi a Sara quem me apresentou o Jorge e quem, desde logo, me chamou a atenção para as letras da música dele.
Devo confessar que de início estava com aquele sorriso simpático e a pensar: "como é que a Sara gosta disto???"
Comecei a prestar mais atenção... e agora canto e digo o que ele tem para dizer enquanto o faço.
Carreguem AQUI para ver um vídeo do Jorge Cruz. Ou AQUI para irem ao myspace dele.
Amanhã ele vai actuar às 23h, no Contagiarte!
Devo confessar que de início estava com aquele sorriso simpático e a pensar: "como é que a Sara gosta disto???"
Comecei a prestar mais atenção... e agora canto e digo o que ele tem para dizer enquanto o faço.
Carreguem AQUI para ver um vídeo do Jorge Cruz. Ou AQUI para irem ao myspace dele.
Amanhã ele vai actuar às 23h, no Contagiarte!
quarta-feira, fevereiro 20, 2008
.cacofonia cerebral
Tenho dificuldades em orientar-me, creio que é por causa do campo magnético do meu corpo. Eu sempre achei que tinha um electrão a mais no calcanhar, relativamente à hipófise e, por isso, sempre que pego numa bússola, o meu Norte Magnético entra em conflito com o Norte Magnético da Terra, gerando um conflito de posicionamento na agulha. Esta fica a rodopiar sem parar nos dois sentidos: orientação nula. Se eu ao menos acreditasse naquela coisa do alinhamento dos chakras, possivelmente a esta hora já os tinha alinhado e, se calhar, o maldito electrão do calcanhar já teria saltado fora. Não consigo ser espiritual, pensar que posso levitar, viver das ervinhas... deve ser por isso que não tenho Norte e que a minha frequência (tipo a da rádio) espiritual não permite alcançar o diálogo magnético do campo de orientação, restando, por isso, a minha deambulação terrena, tal qual um animal simples, básico, instintivo...
Pensei em pedir aconselhamento a quem, de facto, tem a frequência (tipo a da rádio) espiritual, que entra em diálogo magnético com o campo de orientação, mas pareceu-me que os chakras dessa pessoa entravam em choque com o meu desalinhamento "chakral" e, por isso, essa pessoa que estava num patamar acima do meu,não conseguia permanecer perto de mim. Tinha que ser mais espiritual, pensar que posso levitar, comer ervinhas, deixar de ser um animal simples, básico e instintivo e tornar-me num bibelot espiritual (digo bibelot porque esta conversa faz-me sempre lembrar os budas bibelot que aparecem recorrentemente na decoração de muitos lares).
Se calhar vou começar a comprar incenso...
Pensei em pedir aconselhamento a quem, de facto, tem a frequência (tipo a da rádio) espiritual, que entra em diálogo magnético com o campo de orientação, mas pareceu-me que os chakras dessa pessoa entravam em choque com o meu desalinhamento "chakral" e, por isso, essa pessoa que estava num patamar acima do meu,não conseguia permanecer perto de mim. Tinha que ser mais espiritual, pensar que posso levitar, comer ervinhas, deixar de ser um animal simples, básico e instintivo e tornar-me num bibelot espiritual (digo bibelot porque esta conversa faz-me sempre lembrar os budas bibelot que aparecem recorrentemente na decoração de muitos lares).
Se calhar vou começar a comprar incenso...
segunda-feira, fevereiro 18, 2008
.eureka, ufa, que alívio
nunca compreendi muito bem a minha natureza e muita dessa incompreensão traduziu-se, muitas vezes, em desapontamento comigo mesma, numa resma de lamentações e de raiva, num ciclo quase masoquista de intolerância contra mim. o meu (pequeno) percurso tem sido intenso e isso não é mais do que produto da dor a que me exponho, procuro e encontro sempre. é esta a tónica na minha vida.
hoje consegui ver esta geometria mental através de um novo vértice, ao ler uma daquelas frases batidas e enfadonhas, mas que, pelos vistos, existem por alguma razão (nunca gostei dessas razões, parecem-me sempre muito vulgares e desinteressantes também): "sem a dor não se transpõem fronteiras"
"Por caminhos só rectos, não sei ir.
Nos ínvios por que vou, não sei ficar.
Suspenso do passado e do porvir,
Venho e vou!, venho e vou!, não sei parar." - José Régio
hoje consegui ver esta geometria mental através de um novo vértice, ao ler uma daquelas frases batidas e enfadonhas, mas que, pelos vistos, existem por alguma razão (nunca gostei dessas razões, parecem-me sempre muito vulgares e desinteressantes também): "sem a dor não se transpõem fronteiras"
"Por caminhos só rectos, não sei ir.
Nos ínvios por que vou, não sei ficar.
Suspenso do passado e do porvir,
Venho e vou!, venho e vou!, não sei parar." - José Régio
sábado, fevereiro 16, 2008
it's business time...!
Ora bem, ontem recebi uma sms do Zeph Ethilico que reportava uma missão que eu tinha que cumprir... Pois é... Cumpri a missão: abri o youtube e procurei pelos Flight of the Conchords!
Carreguem AQUI e vejam este vídeo e, depois, continuem a ver mais e mais e maiiiis!!
Carreguem AQUI e vejam este vídeo e, depois, continuem a ver mais e mais e maiiiis!!
domingo, fevereiro 10, 2008
escrutinio obliquo.
dissolvo o açúcar no café. sei que estou numa prova contra mim mesma. não perco a concentração da minha colher de plástico que raspa no copo de plástico que por sua vez permite a condução da temperatura para as minhas mãos que ardem de nervos, de calor, de atrapalhação. foco o olhar para os pormenores da parede branca em frente e reparo que colónias de musgo distribuídas ao acaso preenchem-na. talvez isso indique que aquela parede esteja virada para Norte e explique os recorrentes arrepios de frio que sinto enquanto me concentro no copinho de plástico, na colherzinha de plástico e na sua fragilidade enquanto formas descartáveis e perenidade enquanto material. aglutino-me nesta ideia, fecho as válvulas, os olhos, mergulho e venho à superfície segundos depois. senti aquilo, mas desliguei logo.
quarta-feira, fevereiro 06, 2008
depois da automação.
as pregas da saia sem vincos, o cabelo em ninhos de andorinha, os pés com aqueles sapatinhos azuis ortopédicos que entortam mais os pés e as mãos cheias de tinta das canetas de filtro a conduzir por entre o trânsito, perto das nuvens, a desenhar constelações, (o carro de trás não pára de buzinar) a apanhar com o pó dos cometas, a sentir o vento solar, a rebolar nas dunas, a mergulhar numa seara, a comer um gelado de chocolate (porra, o carro de trás está-se a passar!!), a descer de bicicleta aquelas escadas perto da escola, a nadar 2 horas, a vestir a camisola nova, a cantar alto com as amigas no meio de uma serra (será que o carro de trás podia parar de buzinar????), a sonhar, a sonhar, a sonhar... (tantos carros a passar à frente... parecem zangados!)
domingo, fevereiro 03, 2008
lamúrias sem álcool
os olhos inchados e curvos, a boca retraída e tensa, olhar vago em algo simples e lamúrias no canto da boca. o corpo inchado com frio, o pulso negro, a má circulação dos membros, a falta de sorte na inércia, a incapacidade que deus lhe deu, a gripe, o quarto desarrumado, a lamúria da lamúria, circunscrita, delineada, ridícula e obesa. pobre lamúria, pobre lamúria! tendões desajustados, coração sincopado, cama pesada, nefrídeos disfuncionais, esfíncteres obsoletos, azia crónica depois do café, fome depois de comer e no canto da boca, sempre ali no canto da boca, lamúrias que caiem dentro da gola da camisola de polyester que comprou em saldo há 4 anos numa boutique em liquidação de stock.
"Isto assim não pode ser...
Mas como achar um remédio?
-pra acabar este intermedio
Lembrei-me de enlouquecer" Mário de Sá-Carneiro
"Isto assim não pode ser...
Mas como achar um remédio?
-pra acabar este intermedio
Lembrei-me de enlouquecer" Mário de Sá-Carneiro
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