quinta-feira, novembro 26, 2009

.conservantes

se calhar é tarde demais, mas foi este o tempo que demorou. esperava que o degelo trouxesse a Primavera, mas afinal é Outono com uma Primavera repetida a desabrochar. como se a memória fosse feita de um material não degradável, de um poliestireno expandido qualquer que impermeabiliza, reforça, isola todas as sinapses do novelo de lã que estava para ali, arrumado no canto.

agora olho para esse novelo desconfiada, distante, a torcer o nariz. parece uma garrafa de sunny delight, que até com o calor extremo do deserto permanece com as suas propriedades químicas e organolépticas intactas, apesar de no supermercado o exibirem nos frigoríficos.






só sei que a luz lá fora está baixa, pálida, esbatida, ténue.

segunda-feira, setembro 28, 2009

.aliterações

ao fim de contas já nem tinha conta das contas que lhe tinham cobrado, pois andava sempre a passear-se pela estratosfera, rebolando em esfera à procura de um extracto...: acreditava na alquimia.

como da alquimia rende apenas o caminho que se caminha até lá, o cobre continua por cobrar, mas creio que a crença vai querer que o cobre seja ouro, por isso, longe estarão as contas que não contam.

terça-feira, setembro 22, 2009

.(des)sincronia

o mar sem espuma preenchia o ar e por isso não havia espaço. os dias passavam e o mar sem espuma, apesar de estar cada vez mais ausente do ar, não deixou que o espaço ficasse ocupado. de repente, não havia nem mar sem espuma nem espaço.

terça-feira, setembro 08, 2009

.it could be you, it could be me

era mais um dia quente a incandescer a paisagem monótona e plana. o seu olhar cansava-se por ter sempre um horizonte infinito, sempre infinito e o silêncio que enchia a sua casa apenas com o seu próprio ruído, era demasiado alto. na cozinha, lá estava ela a inventar o que fazer, sempre fez isso e isso irritava-o. pegava no jornal do dia anterior e fugia do fresco da casa para o calor do vento leste que secava os seus olhos e folheando as páginas que já lera, dava nós nos pensamentos que já pensara.

"It could be you, it could be me
Working the door, drinking for free
Carrying on with your conspiracies
Filling the room with a sense of unease

Fake conversations on a nonexistent telephone
Like the words of a man who's spent a little too much time alone
When one has spent too much time alone"


Effigy - Andrew Bird

terça-feira, setembro 01, 2009

.olho demasiado clínico

Nasceu num dia em que os narizes eram especialmente grandes, por isso além dos braços, das pernas, do tronco e da cabeça, o nariz acompanhou com ritmo acelerado, o crescimento de todos estes membros. Como a ponta do nariz obrigava o seu olhar a tê-la como ponto de fuga, desde cedo os seus olhos tentaram sair do seu espaço comedido, não tendo outro remédio senão esbugalharem-se. No entanto, esta tentativa não sortiu efeito, por isso teve que recorrer ao uso de óculos com cores suficientemente conspícuas, para que o seu nariz encolhesse. Mas o cabelo, o cabelo era bem bonito, mas ela já não sabia escolher o bonito do feio, por isso, encolheu a sua franja e pintou-o de uma cor que combinada com a cor dos seus óculos fazia lembrar a bandeira nacional portuguesa. Mas gosto do seu tom de pele.

quarta-feira, agosto 26, 2009

.bucolismo

"Passou a diligência pela estrada, e foi-se;
E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.
Assim é a acção humana pelo mundo fora.
Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;
E o sol é sempre pontual todos os dias."

Alberto Caeiro

segunda-feira, agosto 24, 2009

.hermeticamente fechado

o exercício da diferença sempre foi violento. nunca tinha pensado seriamente nisto, mas é fácil recorrer à nossa memória e verificar como era especialmente difícil na nossa adolescência gostar de algo que mais ninguém do nosso grupo gostasse ou vestir uma roupa que saísse do padrão monótono da mancha a que pertencíamos. quando esta fase termina há aqueles que deixam o modelo monótono da explosão hormonal e há aqueles que mantém o mesmo modelo juntamente com o modelo-padrão dos seus pais, avós, etc. e assim criam-se tensões entre os que aceitam, vivem, procuram outros modelos e aqueles que são prisioneiros do padrão tradicional, tensões estas que criam desigualdades de direitos, inércia social e que fazem com que alguns ombros descaíam a cabeça tensa com o peso do atavismo.

"Agora não, que o meu Pai não quer" - Deolinda

Clicar aqui

sexta-feira, agosto 14, 2009

.the state of our hearts

Open. Soft.
.Closed .Hard
Empty. Young.
.Full .Old
Dependent.
.Independent
Secure.
Insecure.
Static.
Dynamic.
Lost.
Found.
Differentiated.
.Undifferentiated
Unique.
.Replicated
Selfish.
.Generous
Validated.
.Suspended
Loose.
.Obsessive

quinta-feira, agosto 13, 2009

.saudades

debaixo dos óculos de sol, os olhos fixavam-na enquanto ela mergulhava na água bonita. para se distrair, ele ocupava as mãos com o livro, mas, e sem entender, as pedras brancas e polidas, que ocupavam o lugar da areia, atraíram o livro e, de repente, ele estava a entrar na água quente onde ele e ela falavam de coisas enquanto a preguiça flutuava os corpos na direcção do sol.

domingo, julho 26, 2009

.a herança

dois dias desde que a água tinha sido cortada lá em casa, por isso com os dedos sujos e pequenos esfregava a cara com a toalha seca, para tentar apagar a sujidade que o espelho reflectia. tinha que ir para a escola sabendo que quando chegasse, a Professora iria de imediato abrir as janelas, desculpando-se com o calor.

procurava o olhar da mãe que estava preso nas moedas que passeavam pelas mãos, não sabia se estava bem arranjada para ir para a Escola. desde que a fábrica fechou, a mãe começou a olhar menos para ela.



desde que a fábrica fechou a Professora da Escola começou a abrir mais vezes a janela. desde que a fábrica fechou a mãe não a olhava. desde que a fábrica fechou não entendia nada do que a Professora dizia nas aulas. desde que a fábrica fechou os amigos olhavam-na de lado. desde que a fábrica fechou respondia zangada a toda a gente. desde que fábrica fechou os seus braços e pernas não paravam de crescer. desde que a fábrica fechou pensava todos os dias que se não existisse, a mãe não teria que prender tantas vezes o olhar nas moedas que passeiam nas mãos.


- oh não tirei mais um Não Satisfaz!

derrotada, voltou a casa onde o pão a esperava para jantar. não disse à mãe do Não Satisfaz, desde que a fábrica fechou a mãe chora muito com coisas que têm "Não" no nome.

sexta-feira, julho 17, 2009

.o bruno a metro

no balanço do metro, o canto do telemóvel apontava para os vales sumptuosos da elisa.

tremidos, os lábios nervosos da fátima estavam de braço dado com o telemóvel do bruno.

elisa pensou com o seu casaco e o bruno disse para si mesmo: ah, até parece que não tenho aqui a minha fatinha!

cúmplice olhou a fátima para o casaco.




fá-la pela calada, o bruno, o que é claro para a fatinha e para a elisa.




"Tem muito estilo o grilo
(pena dar-lhe pràquilo...)

Quanto quilo de alface
(a alface é ao quilo?)
não comeu já o grilo
para ter tanto estilo!

Faz cri-cri no meu verso,
faz cri-cri no meu quilo.
Cri-cri faz no ouvido
e quase no mamilo.

Dá-se ao grilo a folhinha
mas não guarda sigilo.

Ao canário da alpista
(também telegrafista)
que não anunciasse
logo o meu grilo: alface!

Assim te conto o grilo
se não fores repeti...
se não fores repeti-lo."
O Grilo, Alexandre O'Neil

domingo, julho 12, 2009

.as férias na vila branca dos jacarandás

na pequena vila branca dos jacarandás, as andorinhas voavam rasantes e eléctricas pelo calor seco. os homens da vila, à porta das suas casas pequenas e brancas, esperavam, pesados, o frio da noite na cadeira de palhinha pequena e tosca, plateia da cinzenta calçada e das oliveiras centenárias retorcidas. os miúdos, sujos do dia quente, descansavam no sopé das cadeiras pequenas e toscas, desenhando as rotas das andorinhas efervescentes, enquanto esperavam que as pedras da calçada arrefecessem o cansaço. no ar, o aroma do azeite quente, alho e coentros preenchia a ausência das mulheres na rua, que presas nas casas brancas, cozinhavam o cair da noite.

quando finalmente o sol caía, as ruas ficavam desertas, preparando-se para o regresso dos homens, dos miúdos e, agora também, das mulheres da pequena vila branca dos jacarandás, ao som do tilintar da loiça florida com o metal dos talheres.

recolhidas as andorinhas, vinha o merecido descanso do calor para a rua e com ele as estórias, as discussões, as brincadeiras, transformando o branco da vila em côr e o silêncio quente em fresco palrear. a esta hora, as cadeiras de palhinha pequenas e toscas multiplicavam-se com homens e mulheres da vila e, a calçada cinzenta, tornava-se palco da correria dos miúdos. camufladas, as oliveiras centenárias retorcidas fundiam-se no negro da noite, libertando a vila do seu passado.

lentamente, o branco das casas e o cinzento da calçada voltava a ganhar definição. chegava a hora do sono que preparava a vila para mais um dia a trabalhar a terra fina, outrora fértil, aquecida pelo Sol demasiado quente.

domingo, junho 28, 2009

.ao longe

pela janela vejo o horizonte cinzento e azul delineado pela geometria dos grandes volumes urbanos.

a paisagem rotineira abre fria a janela fechada. o desejo é outro.

o olhar coloniza outra fotografia. recortes do passado, de sonho e horizonte e ao longe... (carregar no: play full song here)



Gnossiennes No.5 - Erik Satie - Reinbert de Leeuw

quinta-feira, junho 25, 2009

terça-feira, junho 23, 2009

.o olhar não mente

é brilhante e emana palavras. de tanto olhar para ele, os meus olhos cansam-se e pedem-me descanso de forma pouco subtil.

já tentei explicar-lhes, aos meus olhos, que preciso deles para continuar a olhar para o ecran brilhante, então, de forma perspicaz e astuta, estes traçaram uma estratégia discreta, colocando pesos, de forma gradual, na minha cabeça. o resultado é óbvio: 7 cafés, pouca comida, música enfiada nas orelhas, guerra corpo-cérebro.

no fim da luta, fica a minha vitória, sobre mim mesma e um cansaço sistémico.

"Sei
fazer a guerra à guerra
sei histórias verdadeiras
sei resistir ao calor, aos temporais

Sei
rasgar quando é preciso
é preciso tantas vezes
duas vezes, outras tantas, muitas mais

Descansa a cabeça, que a travesseira
quem ta oferece é estalajadeira
Descansa a cabeça, que a travesseira
quem ta oferece é estalajadeira ..."

Sérgio Godinho, Descansa a Cabeça (Estalajadeira)

sexta-feira, junho 19, 2009

.sopa de letras

juntei as letras na panela. mexi-as bem, enquanto aqueciam a memória.

temperei a sopa com sal e outras especiarias, tirei a panela do lume e, enquanto as letras borbulhavam, um prato esperava pela sua função.

a sopa de letras era assim:















(imagem de um wordle do meu blog)

quarta-feira, junho 17, 2009

.Bach

Estava com a cabeça mergulhada em conceitos e para criar algo de intangível nesses conceitos, escolhi uma banda sonora que sabia que ía tornar o esforço mais leve.

Mergulhei novamente a cabeça, mas desta vez ao som da música que escolhi e gelei quando ouvi a faixa número 12.

sexta-feira, junho 12, 2009

.copy paste

Andar a navegar na blogosfera tem destas coisas... Encontram-se fotocópias de fotocópias sentimentais.

Fui ver o blog do by neca e encontrei por lá este post da leonor:

"Os blogs são umas putas. Todos os meus ex's, e quando digo ex's não falo apenas de namorados, falo do geral, relações simplesmente falhadas, por uma razão ou outra tiveram conhecimento da existência do blog. Ora eles chegam aqui, lêem meia dúzia de baboseiras, encaixam como sendo dirigido a eles e saiem de papo cheio. Só que isto acontece quer eu já não os veja há um mês ou um há ano porque a condição do ego humano absorve sempre que tudo gira à sua volta. Então é assim: já não gosto de ti, nem de ti, muitos menos tenho saudades tuas ou tuas. Tu beijavas terrivelmente mal por isso esquece, e tu... bem digamos que a minha vida sexual teve momentos mais felizes. E não, de ti não gosto muito menos de ti.

Só queria esclarecer isto. Gosto é dele."

E um post destes só pode ter um adjectivo quase olímpico...DIVINO!

quinta-feira, junho 11, 2009

.eu e as coisas fófinhas

Não sei bem como iniciar este post, mas hoje acordei com uma nova convicção. Passo a explicar...

Sabem aquelas fotos encenadas com abelhinhas, malmequerzinhos, borboletinhas, coelhinhos, rosinhas, aboborinhas, ovinhos, nenufarzinhos, girassóizinhos, conchinhas e outras coisas queridinhas acabadas em "inhas" com bébés lá enfiados?

Sim, essas fotos que transformam os bébés em objectos e que geram sorrisos e sentimentos ternurentos nos seres femininos adultos e que me fazem pensar repetidamente e em pânico: coitadinhos daqueles bébés, que serão futuros objectos adultos e, que por essa altura não terão mulheres adultas derretidas à sua volta, pois já não serão abelhinhas, malmequerzinhos, borboletinhas, coelhinhos, rosinhas, aboborinhas, ovinhos, nenufarzinhos, girassóizinhos, conchinhas e outras coisas "inhas".

E depois há o ritual da partilha destas emoções ternurentas com o sexo oposto, que ao ver aquelas coisinhas queridinhas sorriem e dizem: que queridinhos, que me faz rir por dentro em altas gargalhadas. Como é que é possível um ser masculino achar aquilo queridinho? O que se faz por um pedaço de pão...

Portanto, o que eu quero concluir é que há um certo desalinhamento na psicologia do desenvolvimento entre os seres femininos que apreciam os objectos que também são bébés e os seres femininos que não apreciam que os bébés sejam objectos queridinhos. E por favor, seres masculinos, sejam masculinos nos momentos certos.

quarta-feira, junho 10, 2009

.2 minutos e 15 segundos

investi naqueles 2 minutos e 15 segundos.

esse tempo, deu voz àquele meu silêncio reprimido, que acumulara ruído, poluição, tensão, expectativa... por isso, abri os pulmões, criei caixa de ressonância e expressei-me sabendo que, depois desses 2 minutos e 15 segundos, teria o meu mundo do avesso.

conquistei-me. que estranho, mas sim, é isso, conquistei-me.

segunda-feira, junho 01, 2009

.take these sunken eyes and learn to see all your life

Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise

Black bird singing in the dead of night
Take these sunken eyes and learn to see
all your life
you were only waiting for this moment to be free

Blackbird fly, Blackbird fly
Into the light of the dark black night.

Blackbird fly, Blackbird fly
Into the light of the dark black night.

Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise,
You were only waiting for this moment to arise,
You were only waiting for this moment to arise



Black Bird - Maria Joao & Mario Laginha

terça-feira, maio 26, 2009

.distraí-me

prostrada na esplanada de vidro sentei o meu olhar na rocha em frente. ouvi o som cristalino e salgado das ondas e imaginei todos os peixinhos que nadavam ao pé de mim. sorri, como se fizesse parte da brincadeira tola dos cardumes prateados na espuma do mar. não resisti em invejá-los e desejar ser, também, um peixinho de mar a fugir das redes e a deliciar-me com a força das ondas, nadando e fluindo sem fronteiras.

voltei para a esplanada envidraçada, e sacudi o sargaço do ombro, pois vi que estavam a olhar para mim.

quarta-feira, maio 20, 2009

.força centrípeta

O que encontrei...



"Todos os movimentos da sensibilidade, por agradáveis que sejam, são sempre interrupções de um estado, que não sei em que consiste, que é a vida íntima dessa própria sensibilidade. Não só as grandes preocupações, que nos distraem de nós, mas até as pequenas arrelias, perturbam uma quietação a que todos, sem saber, aspiramos.

Vivemos quase sempre fora de nós, e a mesma vida é uma perpétua dispersão. Porém, é para nós que tendemos, como para um centro em torno do qual fazemos, como os planetas, elipses absurdas e distantes." in Livro do Desassossego, Bernardo Soares

terça-feira, maio 19, 2009

.estória na cidade: andante

Sei que não sou a única espectadora, o palco é de muita gente. Gente que se senta no lugar da janela e observa as estórias que viajam durante escassos minutos, mas que nos acompanham até casa e que preenchem, por tempo indeterminado, a imaginação.

Entrou no metro de modo conspícuo, com a roupa cinzenta, a remeter para um estado de alma um pouco enlutado, com o puxo cinzento e as rugas de quem já passou muitas horas ao sol a trabalhar. Ao lado dela, entrou, também, um sujeito quase transparente, encolhido sobre si mesmo, que tapado pelos seus óculos, provavelmente já a precisarem de uma substituição vai há mais de 15 anos, tornou-se disponível para ouvir o que a redonda e curvilínea matriarca tinha para dizer bem alto sobre o passe do metro para reformados. Bem alto, aquela mulher que era de um outro tempo, fazia publicidade ao metro, dizendo que agora ía para todo o lado num instantinho: "Eu agora vou para matosinhos, boavista, s. joão... só não dá para ir pá maia, para gaia... de resto, vou para todo o lado!!! É uma maravilha!!" 

O reformado, transparente e silencioso, acenava com a cabeça, concordando com todas as vantagens que a redonda mulher enumerava bem alto, sem acrescentar nada às suas palavras... 

O metro tinha agora chegado a uma das estações mais cosmopolitas da cidade e, do metro moderno, vejo a sair a mulher anacrónica, com a camisola cinzenta, a saia cinzenta, o avental cinzento, o puxo cinzento, o andar gingão de quem já foi mãe de sete e, a condizer com o metro, nos pés calçava uns crocs amarelos. 

Surpreendida com a conjugação de todos os factores, esbocei um sorriso para mim própria, observando a ironia de todo o episódio. Ao mesmo tempo, entrou uma mulher, geométrica, rural, com um fato de fibra, mal assentado ao corpo, com cabelo preto vivo e penteado de senhora de idade da aldeia, que sem uma ruga ou expressão, tinha uns óculos sem jeito. Senti o desconforto dela enquanto ser feminino, desviei o olhar, para ela não se sentir observada, mas não resisti em decifrar as letras que estavam na pastinha que ela religiosamente carregava: Técnicos Oficiais de Contas. Era contabilista.

Próxima paragem... Carolina Michaelis. Saí.

quarta-feira, maio 13, 2009

.estórias urbanas: as mulheres e as aves canoras

margarida eufémia, vivia no 2º esquerdo do prédio das portadas brancas. saía todos os dias para o trabalho, gingona e bem disposta, a ouvir a canção que um tal de melro lhe cantava frequentemente. embrulhada pelo chilrear, aquecia o peito e cantava um sorriso infinito, que fazia desabrochar todas a flores por que passava.

a sra d. vitória, dona do quiosque lá do bairro, dizia, sempre que via margarida eufémia a passar nesta figura, que o melro que ela ouvia cantar era um bandido e que mais dia menos dia, margarida eufémia iria passar na rua de lágrima no canto do olho, fazendo murchar todas as flores que encontrasse na rua e que o seu coração iria definhar de tristeza... mas margarida, alheia a tudo, continuava na sua nuvem a passear-se pelo bairro, exibindo a sua felicidade, para todos os seus vizinhos, e contagiando a atmosfera circundante...

um dia, margarida saiu do seu prédio, com outro ar, um ar mais decidido, mais assente no chão. A sra d. vitória desconfiou logo... O melro já tinha feito das suas vadiagens... Não resistiu e perguntou a margarida: "Então, guidinha? Como vai o melro?" ao que margarida eufémia respondeu: "melro? eu agora tenho um colibri"

a sra d. vitória pensou para si mesma, que no tempo dela as moças não tinham esta sorte... se ela soubesse o que hoje sabe, se calhar não estaria com o mesmo pardal há 25 anos, sempre gostou mais de piriquitos.

 

domingo, maio 10, 2009

.estória na cidade: esferovite

com os papéis na mão, retraíram-se os músculos no coração e no lugar comum pequeno e asfixiante, enquanto o trânsito aquecia a cidade.

depois, o tempo e a memória criaram a bifurcação volátil do anterior sentir e a única coisa que ficou, foram bolas de sabão.

agora, o horizonte está livre de toda a geometria sinuosa dos velhos edifícios. é tempo de projectar a nova cidade... no esferovite.




sábado, abril 25, 2009

.estórias urbanas

sempre caminhou na rua com a carga do corpo na mala ruidosa, no asfalto negro de chumbo. apenas quando a luz era parca e crua, negra e funda, caminhava ouvindo apenas o ruído das rodas, que eram o chão da sua cabeça e o poço do seu pesar. a cabeça, coberta pelo boné roído pelo tempo, cabisbaixa e obesa de melancolia, seguia em frente, obrigando o corpo a imergir na negritude da cidade.

a luz ao longe nas casas altas e paralelipipédicas e o vento a zumbir a velha canção.

a cidade era a casa.


quarta-feira, abril 15, 2009

.estar só e com sede

chegara a casa de mais uma noite quente e boémia, com pitadas de arejo por um lado e, por outro, um je ne sais quoi de melancolia e despedida. Por isso, nessa noite, enfim, gelei-me com a alegria parva do 1€ por um fino e perdi a conta.

a casa esperava-me só, com as três assoalhadas vazias, o chão de granito polido da entrada frio, o eco da minha presença a reflectir-se nas paredes pastel e a torneira de sede a encher-me o copo de água, repetidamente, para que no dia seguinte, a cabeça não continuasse a andar à roda ou em alta pressão.

concentrada no que pensava e no que havia para sentir, fui interrompida por um som seco e forte atrás de mim. parei e hirta virei-me para trás. novamente, PACK!, olhos esbugalhados, braços junto ao corpo, pescoço para trás, paragem respiratória. tentei identificar com o olhar a origem do som e dividi-me entre o frigorífico e a porta da lavandaria, com janela para o exterior, do lado esquerdo do frigorífico.

será que alguém tinha trepado 4 andares pelo tubo das águas pluviais e entrado pela janela minúscula? ou será que o meu frigorífico tem problemas de coluna e estava a ter uma massagem chinesa feita pelos anõezinhos chineses do líquido congelante?

fiquei estática, com vontade de fugir porta fora, pois, nessa altura tanto me pareceu razoável a teoria do ladrão trepador, como a das massagens do líquido congelante... a única solução para esta chave dicotómica seria abrir a porta da lavandaria de rompante, com o meu fato de super-mulher e, se desse de caras com um ladrão, eliminá-lo com o meu super poder de super-mulher, que seria, talvez, a transmissão em decibéis dolorosos da dolorosa música do andré sardet.

no entanto, não sei se foi da torneira que me encheu de sede, se foi da fraqueza que por vezes se me dá nas pernas, continuei estática, gelada, cheia de medo, a olhar ora para o frigorífico, ora para a porta da lavandaria. não sei quanto tempo assim passei, mas achei que a solução passava por sair da cozinha, fechar a porta da cozinha, fechar a porta do corredor, enfiar-me na cama, com a porta do quarto bem fechada. depois de dormir, saberia lidar ou com o ladrão trepador ou com a fisioterapia do frigorífico.

terça-feira, abril 07, 2009

.salmoura

é ali, ao pé das ondas e das rochas que aqueço a areia, enquanto observo o horizonte melancólico e linear que me separa de mim.

escuto as ondas e apago a distância, enquanto desfio novelos e cores e formas.

é ali, naquele espaço cheio de espaço, que me quero aquecer, enquanto o tempo passa constante e anacrónico de mim.

terça-feira, março 31, 2009

.primavera minimalista

ao primeiro raio de sol, juntaram-se outros fotões, aglutinando-se. reciprocamente atraídos, aumentaram a intensidade do primeiro raio de sol, formando o segundo, o terceiro, o quarto... raios de sol.

olhares tímidos e intencionais.

dizem por aí que chegou a Primavera.

segunda-feira, março 23, 2009

.tu?

sei lá, se calhar não, mas tenho a certeza que sim. amanhã, quem sabe, acho que sim, mas também pode não ser, embora saiba perfeitamente que sim.

está sempre na minha cabeça e o coração quase que sai da boca, mas se calhar isso é das alergias ou da música que está a passar no ipod ou então tenho que ir ao cardiologista, analisar o meu coração numa máquina para chegar mais rapidamente à conclusão de que o coração não deixa de ser só uma máquina que bombeia o sangue.

eu sei porquê, não vale a pena pensar mais nisto, aliás, devia era estar a pensar em coisas mais importantes como a crise financeira, o desemprego, a desigualdade social, mas tu...

quarta-feira, março 18, 2009

.a crise do almoço na escola

Era o intervalo de almoço na Escola EB2,3 de Aldoar, escola essa que abrangia todas as classes sociais possíveis e imaginárias, formando um caldo social que nem sempre era saboroso aos meninos considerados betinhos. Mas à hora de almoço não havia cá conflitos, já estava acordado de antemão, que a translocação geográfica seria para o famoso luky luke, estabelecimento que vendia uma variedade incrível de gomas e que aguçava o apetite a todos os alunos da escola. Durante o percurso, o posicionamento na fila era importante. Quem fosse à frente, era atendido primeiro, sim, isso é óbvio, mas não era só esse o factor importante para o posicionamento... No meio tinham que ir os betinhos, esses é que tinham dinheiro, a gunada ía em filas laterais, tal qual escolta policial, a ameaçar os betinhos que se não tivessem 3 chiclas gorilas, 4 línguas de morango e 5 almofadas, íam ter uma esperinha quando saíssem do luky luke.

À hora de almoço, os donos do luky luke esfregavam as mãos de contentamento por ver tanta clientela a comprar doces que provocam cáries e sobre-excitamento da criançada, já por si inquieta, da Escola EB2,3. E a essa hora, todas as caixinhas de gomas e chiclas ficavam vazias, quem tentasse ir lá depois, era certinho, já não havia nada!

Chegada a escolta do luky luke ao recreio da escola, este enchia-se de meninos com línguas azuis,roxas, de risadas, de gula... e a cantina da escola, com refeições metodicamente calculadas para satisfazer as necessidades nutricionais dos meninos de forma saudável, vazia.

O stôr lucas, presidente do conselho directivo, intrigado com esta situação, iniciou a sua investigação, porque raio andava a cantina vazia e para onde ía aquela romaria de alunos. Ora pois bem, quando descobriu o que o luky luke andava a vender às crianças e que estas saíam da escola, percorrendo caminhos altamente perigosos para a sua segurança, iniciou uma campanha anti luky luke. No dia seguinte todos os professores na aula avisaram: não é permitido sair da escola durante a hora do almoço. Só com autorização prévia dos Pais!

No entanto, chegada a hora do almoço, todos os alunos dirigiram-se para o portão da escola, fechado, para verificar se não havia mesmo escapatória... Não havia mesmo como fugir...!

Rumo à cantina e à comida sem açucar, os alunos cabisbaixos da EB2,3 de Aldoar voltaram à velha rotina que, em comparação com as gomas coloridas, era cinzenta. Almoço com o mocho, o rato, o china e o coveiro a massacrar um betinho qualquer, a saladinha, a sopinha...

O luky luke entretanto fechou, ficou sem negócio.

terça-feira, março 10, 2009

.serviços

eu sempre gostei de tomar café a seguir ao almoço e quando não o posso tomar, ando o dia todo com trombas para o meu chefe.

tudo bem, trabalhar e atender os clientes e fazer crescer o negócio, é a prioridade, e, por isso, às vezes não há tempo para tomar café, mas mais 5 minutinhos, menos 5 minutinhos, é assim tão relevante? vamos mesmo perder algum cliente? eu acho que perdemos muitos mais quando vou para o balcão com a cabeça pesada, porque, cá entre nós, eu sou mestre a conquistar os clientes, mas sem café depois do almoço, tarde de trombas... não consigo vender o meu sorriso.

agora... quando eu tomo café a seguir ao almoço, deviam ver esta loja, cheia de clientes a gastar dinheiro, a ir embora de sorriso na boca. é por isso que eles voltam sempre, eu, no fundo, vendo o meu sorriso...



se ao menos o meu chefe pusesse aqui uma máquina de café...!

segunda-feira, março 09, 2009

.és assim

estou exausta, não porque estive a correr uma maratona ou a trabalhar o dia inteiro, mas porque estive em ensaio do côro.

o cansaço de um ensaio exigente é diferente de todos os outros cansaços e creio que é por implicar uma actividade cerebral e corporal tão complexa, que rebenta com a nossa energia de uma forma muito profunda, em nada semelhante com o cansaço de uma época de exames, de treino físico exigente ou de muitas horas de trabalho.

o cansaço depois de um concerto exigente é quase inebriante, deixa-me desligada mental e fisicamente, trôpega na minha expressão facial que luta, com olhos semi-cerrados e vermelhos, costas curvas e cabeça pesada, por ser agradável para com o meio externo. se deixo que os olhos fechem durante mais do que 10 segundos, a minha cabeça ouve linhas melódicas, harmonias, ritmos, timbres... o corpo sente as vibrações dos decibéis, as frequências dos sons e tudo isso transforma-se em mais cansaço.

música... és assim.

quarta-feira, março 04, 2009

.eu coro tanto

sempre me denunciaram, vermelhas, pouco circunscritas e pouco contidas, as minhas bochechas mostram sempre o que eu sinto.

já fiz várias tentativas para as apagar. uma consistiu na tentativa de desligar as sinapses que ligam o coração às bochechas. quando experimentei, a ansiedade, o esforço e a pressão que senti, fizeram desenvolver em mim o medo de parecer fria e falsa, que por sua vez, e ajudada pela adrenalina, fez com que as minhas bochechas inchassem de vermelho. houve relatos, nesse dia, de um astronauta, que conta que da lua conseguiu ver um ponto vermelho, desconhecido, situado em Portugal.

uma outra tentativa minha, já experimentada mais do que uma vez, foi a de cobrir a minha cara com base e que consistia no seguinte ritual: primeiro hidratava a minha face com cremes, depois aplicava a base. conseguia permanecer com cara de boneca de porcelana durante... 10 minutos, pois mais coisa, menos coisa, as bochechas invadiam o território à maquilhagem espessa e opaca, e o vermelho aparecia com todo o seu vigor, anunciando a sua conquista em território hostil.

também tentei ter o cabelo suficientemente comprido para tapar as bochechas, mas isso implicou vários hematomas, traumatismos e afins, dado que o cabelo cobria também os olhos.

rendi-me a elas e ao que elas me fazem. rendi-me, também ao coração, a cabeça não comanda nada...!

terça-feira, março 03, 2009

.jazz mood

chegou num fim de tarde solarengo, enquanto as flores apanhavam o primeiro sol de Inverno e as nuvens, preguiçosas, ficavam longe. chegou para ficar, intermitente e constante.

os olhos bem fechados, mostraram-me um sentir já conhecido e, enquanto incubava as memórias, o coração tornou-se um dínamo ampliado pela ansiedade...

agora que já esperei, observo calma e silenciosamente a dispersão das sombras e das noites longas.



quinta-feira, fevereiro 19, 2009

.eu e as beatas

cada uma com o seu puxo, daqueles que as mulheres da aldeia costumam usar, a andar de metro, no porto.

não paravam de ter aquela conversa típica de mundo pequeno, em que a vida dos seus filhos é o único tema que conseguem ter e, de preferência, provando que os seus filhos são os melhores do mundo e que vão muito bem na vida, graças a deus, recalcando os filhos das outras amigas, que vão bem, mas não chega a tanto! claro que o discurso moral não podia faltar, como se não houvessem telhados de vidro, discurso esse que as ruborizava e encandescia, tantas eram as vezes que abanavam a mão, como se de um leque se tratasse sempre que mencionavam isto ou aquilo...!

pequeninas, com as pernas a flutuar no metro, hipnotizaram a minha atenção, como se eu estivesse a ver um episódio da minha infância. nessa altura, vi muitas mulheres como aquelas. eram avós ou mães dos meus colegas da escola, mulheres essas que nasceram bem longe do Porto e que para cá vieram à procura de uma vida melhor. tive, inclusivé uma Professora Primária exactamente assim, com aquele puxo, aquela fisionomia e aquela fé católica cega, a D. Rosa, que olhava para mim de lado, porque eu era a filha do Sr Dr e não andava na catequese.

acho que uma vez, a D. Rosa, chamou os meus Pais, numa tentativa de espalhar a fé sobre o meu lar e salvar as nossas almas. o puxo, a fisionomia e o cheiro de beata não os convenceu. 1 ano mais tarde, a D. Rosa deixou de ser Professora lá na Escola. parece que eu e os meus Pais não tínhamos sido os únicos a sofrer a pressão evangelizadora da D. Rosa, Directora da minha Escola Primária, por sinal, pública. lembro-me como foi libertador ter que deixar de fingir que sabia rezar no início de cada aula.

foi um alívio sair do metro e deixar de ter aquelas figurinhas à minha frente, não sei porquê, isso fez-me voltar a sentir exactamente o mesmo que senti quando pude deixar de fingir na minha Escola.

domingo, fevereiro 15, 2009

.eu queria ser mais Músico

Sempre pensei que, para ter um pensamento complexo, este deveria ser holístico, através da união das Artes, da Ciência e da Engenharia. Este espaço-continum permitiria a interacção entre os diversos campos do saber, resultando na possibilidade de me tornar numa pessoa capaz de absorver, analisar e compreender o mundo, o que, em todos os campos da minha vida e na minha interacção com o meu meio, iria reflectir-se positivamente, com certeza.

Em que é que o Tratado de Bolonha me impede de perseguir este meu objectivo pessoal?

As directrizes relativas aos métodos de avaliação universitária deste tratado, implicam um dispêndio de tempo e de energia contínuos ao longo de todo o ano lectivo, impedindo-me a mim e a outros estudantes universitários de conseguir cumprir outros objectivos pessoais, isolando-nos numa bolha académica disfarçada de competente, cumprindo os desígnios da standardização mental e intelectual dos estudantes europeus: hoje em dia, o que diferencia um estudante de Engenharia Mecânica de Portugal de um da Alemanha? A língua-mãe?

Eu estava a frequentar o 5º Grau de Piano e, apesar de ter iniciado o ano lectivo a todo o vapor, finalmente ía atingir este meu objectivo, a minha energia teve que ser absorvida pela quantidade de trabalho que a faculdade me impunha, não restando tempo algum para qualquer outro tipo de actividade e, embora me seja ensinado na faculdade que devemos procurar outros domínios do saber para que sejamos criativos e inovadores na nossa vida profissional, a própria faculdade é que nos retira essa possibilidade. Hoje em dia não posso ser exigente comigo própria, no que diz respeito ao estudo da Música, nem responder à exigência do estudo de piano mais rigoroso e exigente. Sobra-me uma possibilidade: estudar música de modo superficial, ideia que não me satisfaz e que coloca as Escolas, como o Curso de Música Silva Monteiro, desprovidas de alunos ou então preenchidas com alunos frustrados, professores frustrados, gerando desmotivação de ambos os lados do espelho e, no fim, despe-se a nossa já inculta sociedade de diversidade e de conhecimento, elementos estes, que poderiam até, alimentar a tão falada crise financeira de criatividade!

Universidades exigentes, sim, isso orgulha-me, mas o conceito de Universidade vem da junção de duas palavras: conhecimento universal.

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

.moving cause

pois é... não acredito na geração espontânea, mas por vezes há projectos que surgem quase de repente e que entram pelas retinas e espalham-se até ao tecido muscular cardíaco.

foi a sara quem me levou a este projecto, agora uma Associação: Moving Cause, que vai também entrar pelas vossas retinas e chegar ao vosso tecido muscular cardíaco, pois vamos promover e difundir projectos de empreendedorismo social e o intercâmbio e a cooperação para o desenvolvimento no âmbito da ciência, da cultura e da tecnologia.

a primeira pedra já foi lançada: bonecas de ataúro. na ilha de ataúro, situada em frente a Díli, isolada e distante, existe uma comunidade. com o objectivo de valorizar e de promover essa mesma comunidade, foi criado o projecto das bonecas de ataúro, mas estando a ilha isolada e distante, como conseguir esse objectivo? depois de muitas horas de trabalho e de contactos, a sara conseguiu trazer as bonecas, que estiveram na Concepta, para divulgar este projecto e para gerar um retorno económico, proveniente da venda das bonecas, revertendo-o a favor da comunidade. o 2º passo será ir até ataúro ensinar as mulheres um pouco de tecnologia e rudimentos de gestão, aproximando ataúro de todos nós (porque não comprar uma boneca online? etc...).

no entanto este é apenas o 1º projecto! mais estarão para vir... e a Moving Cause espera ter sugestões vossas e... já agora... porque não comprarem uma boneca, ahn?

terça-feira, fevereiro 10, 2009

.quero acreditar na astrologia

há dias que parecem ser o resultado do bom alinhamento astrológico e dos chakras e mais não sei o quê. hoje apetece-me acreditar em tudo isso e sentir a espiritualidade do irracional.

viajar noutro sentido, para encontrar a direcção, seguindo os movimentos opostos sentidos pela resistência. tocar uma melodia por cima da sinfonia ruidosa e sentir a tensão harmónica a descontrair. viajar, viajar, viajar! é isso...

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

.comboio

Eram 21h30 da noite em Lisboa e as minhas olheiras carregavam-me até ao comboio. Estas, tinham a convicção de que nas próximas 3horas iriam desaparecer, embaladas pelo ritmo ferroviário.

Ao entrar na minha carruagem eis que vislumbro índios urbanos com as hormonas adolescentes a vibrarem e a expressarem-se a todo o vapor. Não tive remédio senão sentar-me no meu lugar e enfiar o queixo para fora de neura.

Tentei distrair os meus ouvidos com os olhos, lendo compulsivamente um livro que me adormeceu e quando acordei, começou o espectáculo...

- C'a cena, este combóio naum ánda, isto é uma simulaçon... Nós ainda estámos em Sánta Apolónia, naum pensem que estámos a andar! O que nós estámos a bêr são écrãs plasma, cortinas berdes para lembrar a natureza e colunas chinesas!! Paaaashhh!! Estou aqui a perder 3 horas da minha bida numa simulaçon... O que bale é que no fim a REFER bai dizer aqui nos altifalántes que nos bai oferecer uma estadia aqui em lisboua e que temos pastéis de nata grátis no Castelo de S. Jorge, porque lá eles nascem no chão!!

Toda a carruagem ria, chorava a rir, contorcia-se no lugar de dores provenientes do riso compulsivo... E ainda disse mais...:

- ólha os chineses a colarem o cenário... a mudar a plaquinha que dizia Santa Apolónia para Coimbra... ólha que bem que eles colam as luzinhas, jasuuuus...!

Velhinhas a esconder o riso, eu com espasmos de dor a tentar conter aquela gargalhada estridente, os amigos a puxar por ele (não que ele precisasse)...:

- Paaashhh, e qual foi a 1ª frase que eu ouvi de um lisboeta...? Fuooogo! Perguntei onde ficava o parque das nações e o gaijo respondeu-me (a falar com sotaque lisboeta) "Segue em frente cerca de 200m, chega à rotunda e vira 270º à sua direita, segue uns 150m em frente e vira 90º à sua direita..." Fuooogo, o gaijo só podia ser matemático!! Imagina se eu tivesse perguntado o caminho até ao Algarbe!?!!

Já estavam duas carruagens a soltar gargalhadas bem dispostas... e de repente, como quem não quer a coisa, o combóio chegou de facto ao porto e o meu sorriso carregou-me até à minha mãe que me foi buscar à estação.

Devia ter um personagem destes sempre ao meu lado para prevenir os momentos em que as olheiras me carregam o corpo e a disposição... Alguém sabe onde é que posso encontrar um?

sexta-feira, janeiro 30, 2009

.quem me dera saber cantar

tenho uma voz que sai e que debita notas metricamente correctas, dinamicamente correctas.

tenho uma voz correcta que debita apenas notas e dinâmicas e ritmos, que formam melodias de coração apagado e frouxo.

tenho a voz longe do coração e, longe tenho, o coração de quem ouve.

gosto de ouvir quem sabe cantar (quem tem a voz junto ao coração) e, de mansinho, digo para mim mesma...: "quem me dera saber cantar..."

quinta-feira, janeiro 29, 2009

.the education that makes our brain stupid

there is a lazy way of educating the students brain... I'm studying for one hour and I'm already in a bad mood because of it and I tell you why: I'm just reading stuff that it's made for me to memorize it and then forget it, I guess. The studying material has lots of potential to be one of the most interesting things that I've ever studied but instead I'm forcing myself to study it, sighing every 2 minutes, thinking that the grey clouds standing outside could just grab me and take me traveling with the cold and dangerous winter wind.

I try to prevent my brain to play tricks with me. Everything is readible and learnable. I can do it, I know that I can study and forget it after the exam, I know that's what the professors want because they put so little effort on this, I just have to pursue my goal, to read and swallow it and then vomit it in the exam, that's all.

Should I ask for more?

.visita aos arquivos

Fui visitar os meus arquivos e aqui fica o que por lá encontrei...





quarta-feira, janeiro 28, 2009

.small song

Uma vez que ando sem escrever por aqui... limpo o pó aos cantos da casa com uma musiquinha (small song - Lhasa de Sela)!

quarta-feira, janeiro 21, 2009

.quando os dias ainda eram quentes

lembro-me como se fosse ontem, ele entrou na sala de aula com um ar todo gingão e pretensiosamente descontraído, com as asas da camisa com padrão geométrico a balançar sobre a t-shirt branca e a mochila no seu ombro direito. tinha as repas do cabelo a formar um rolo encaracolado e ondulado a apontar para onde a sua cabeça realmente estava e escolheu o seu lugar com a confiança certa de que ali, era mesmo o seu lugar.
imaginei eu, que aquele fulano seria certamente um daqueles que não tem casa, que não quer ter casa e que pensa que a vida seria melhor numa autocaravana. imaginei eu, que aquele fulano vivesse num mundo de banda desenhada, cheio de balões de chamada a divergir do seu cabelo e com o seu coração fechado num muro de cimento armado cheio de graffitis coloridos por fora.
toda esta construção feita pela minha imaginação fez-me rir por dentro, divertiu-me e fez-me pensar...: com aquele é que não me meto!

quinta-feira, janeiro 15, 2009

.já tracei o plano

rio alta e marcadamente para dentro... já descobri o que me vai salvar desta epopeia de exames que me obriga a ter disciplina intelectual, mas que acaba comigo a procrastinar pelo mundo cibernético... acho sempre que vou encontrar um dispositivo secreto num site de uma sociedade secreta, que me irá injectar a matéria que preciso de estudar, directamente para o cérebro e transfomar-me num ser intelectualmente mais completo, sem esforço algum! e quando descobrir essa santa ferramenta, vou-me esforçar por fazer aquelas coisas que estão presas em mim e que não trazem propriamente valor acrescentado à minha sabedoria intelectual, mas que alimentam o meu espírito livre de boa disposição! assim sendo, vou desde já anunciar os meus afazares prioritários:

- rebolar naquele talude verdinho do túnel da entrada na rua 5 de Outubro (sentido AEP-Rot. Boavista).
- pegar na minha lomo e num rolo fotográfico e fotografar cenas de rua.
- traçar um plano de mudança de clima para o nosso país. (chega de clima moderado atlântico, vamos masé pó tropical húmido!).
- conseguir ver um jornal nacional da tvi, para que eu finalmente me deslumbre com a manuela moura guedes a apresentar as notícias. (25 anos de existência e ainda não consegui rebolar no chão da minha sala a rir ao ver notícias... é triste!).
- pensar nas causas reais da fisionomia da face das pessoas importantes da rússia, que passo a explicar porque me intrigam: face com uma forma para o obovada, achatada no cúcurutu, orelhas inseridas num ponto mais acima do que seria de esperar e espetadas tipo abanico, olhos pequenos, em forma de avelã, e afastados, nariz achatado, especialmente adaptado para levar murros, boca em forma de um pequeno segmento de recta que vai do ponto a' para o ponto b' (e dentes inexistentes, pois sempre que abrem a boca, nunca os consegui ver... não devem gostar de usar placas ou de próteses dentárias, suponho...), cabelo fino, loiro-russo (como seria de esperar) tipo o cabelo dos bébés loiritos cá de portugal e etc e tal...
- ver todos os programas do Aleixo na Escola e sugerir aos autores um episódio qualquer. Com isto eu passaria a ser argumentista do aleixo e, quem sabe, a dar voz a uma das personagens....(era um sonho!).
- ir, finalmente, à tasca da badalhoca, que desde os 15 anos que ouço dizer que é onde há as melhores sandes de presunto do porto e, que sempre que pergunto onde é, respondem-me que fica ao pé do colégio do rosário...
- ver uns 10 filmes que tenho na minha lista de espera, alternando entre a comédia e o drama, para que eu diga que foi um dia bipolarmente emocionante!

de momento não me lembro de mais afazeres prioritários, mas manter-vos-ei informados das alterações!


Os objectivos estão traçados, agora falta escrever a minha missão e delinear a estratégia:

As 5 forças competitivas (de Porter):
- produtos subsitutos: NÃO HÁ;
- ameaças à entrada: hmm... falta de tempo devido aos afazeres académicos e inibição social de pôr na prática alguns dos objectivos a que me proponho;
- concorrência: NÃO HÁ;
- poder negocial dos fornecedores: SEM RELEVÂNCIA;
- poder negocial dos clientes: SEM RELEVÊNCIA.

Análise SWOT
- Forças: eu quero, eu quero, eu quero;
- Fraquezas: não posso querer... tenho que fazer outras coisas.
- Oportunidades: disponibilidade afecto-emocional para o efeito.
- Ameaças: realidade académico-social.

Factores críticos de sucesso:
- originalidade, dentro do mercado da procrastinação, na forma como quero procrastinar e independência externa da minha acção procrastinadora, dado que é uma estratégia de mim, para mim e por mim.

Competências centrais:
- preguiça em estudar, elevada competência para a criação de ideias algo estupidas, forte aptência para a procrastinação e forte motivação intrínseca.

Ajustamento:
- Não há!

Vantagem competitiva:
- reprovar nos exames, mas ser muito feliz.

( caí na esparrela... julgava que estava a procrastinar e acabei de usar a matéria de gestão, nem sei bem porquê... mas acho que isto também é estudar. pfff...!)

quarta-feira, janeiro 14, 2009

.a culpa é da crise... bloqueia-me a criatividade!




...tenho um bloqueio criativo e este bloqueio não é para brincadeiras, porque à custa dele ando com um dossier de criatividade a ser entregue no próximo sábado, dia 17, completamente estanque...

já ando a treinar no espelho a minha expressão de cachorrinho mal amado, para que na eventualidade de continuar bloqueada, possa convencer a professora de que a crise que assola o nosso mundo ocidental, também afecta a minha capacidade de trabalho criativo.

como ser criativa em tempo de crise (sim, este meu bloqueio, continuo a dizer, vem da crise)?

- fazer um buraco na areia e enfiar lá a cabeça.
- ver TV geriátrica (leia-se programas da manhã e da tarde).
- ter pena de mim.
- pensar na injustiça de ter que se ser criativo com a pressão de datas marcadas. aposto que o Picasso nunca aceitaria tais condições!
- pensar nas coisas criativas que não têm utilidade para o raio do dossier criativo.
- dizer bem alto: RAIO DO DOSSIER!!!!!!
- escrever mais itens nesta lista, para continuar a ocupar tempo criativo.


...e assim, a ouvir bem alto o tempo a passar, vou ter que fingir que mergulho neste trabalho e produzo, para ser uma boa profissional criativa...!

segunda-feira, janeiro 12, 2009

.how to procrastinate effectively!

Uma vez que quando estudo tenho uma grande necessidade de procrastinar, aqui vão os conselhos que encontrei ao pôr no google: how to procrastinate

O mote é: se querem procrastinar, procrastinem, procrastinem, procrastinem!!!!!!


1: Procrastinate without guilt

Do not beat yourself up for procrastinating. Everybody does it once in a while. It doesn’t make you a lazy bastard or a bad person.

If you leave a task for later, but spend all your time obsessing about the task you’re not doing, it does nothing good for you. So procrastinate without guilt.

2: Procrastinate 100%

Do you know those people who procrastinate from some important task - and all they can talk or think about is the task they’re not doing. Often to the point of obsession!

Don’t. Throw yourself 100% into whatever it is you are doing, whether you’re vacuuming, watching TV, reading, surfing the web or out drinking with your friends. Do it and enjoy it to the max.

3: Choose to procrastinate

Don’t let procrastination sneak up on you, so that you suddenly find that you’re doing something other than you should be. Instead, choose consciously to not work on your current task. Instead of fighting it, say to yourself “I will now procrastinate”.

This way procrastination isn’t something that happens to you, something that you’re powerless to control. As if it ever could be :o) This way you’re in charge and procrastination is a tool you use.

4: Ask yourself why you procrastinate

There can be many good reasons to procrastinate:

Some crucial ideas, notions, thoughts may come to you only when you’re not working on your project.
Effective procrastination recharges your batteries and gives you new energy.
Maybe there’s something else you could be doing instead and procrastinating means you get it done.
Maybe whatever it is you’re supposed to do, turns out to be irrelevant or even a bad idea. Maybe the reason you procrastinated was, that your subconscious knew this before your conscious mind.
Working non-stop means missing out on all of this. When you find yourself procrastinating, ask yourself why. Don’t just accept the traditional answer: “There’s something wrong with me, I’m a bad, lazy person”.

5: Take responsibility for procrastinating

When you choose to procrastinate, make sure to update your deadlines and commitments. Let people know, that your project will not be finished on time and give them a new deadline.

Procrastinate now. I dare you!

Procrastination is not bad in itself. Do it right, and it’s a way to be more efficient and have more fun with what you’re working on.

In fact, I challenge you to procrastinate this very moment. Pick a task that you should be working on right now, but where your heart isn’t really in it. Then, rather than work half-heartedly on this task, procrastinate fully and consciously as described above.

Notice how it changes how you think about your task and what it does for you when you procrastinate 100% and without feelings of guilt.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

.Clandestino

Já que fechei para balanço na minha escrita... Aqui fica um fadinho Deolinda que me acompanha no pseudo-estudo!

quinta-feira, janeiro 08, 2009

.fechado para balanço!






ATÉ BREVE!

.off

consegui premir o botão off. estava com medo disso, de desligar, mas agora que eu sou eu, digo, o sacrifício valeu a colheita.

agora até digo com um sorriso...: é só carregar OFF!

baterias a carregar, sorriso tranquilo nos lábios.

já consigo observar a arquitectura do pensamento e contemplar os nós cerebrais, com um pouco de sarcasmo, porque é para isso que os nós servem, é para mais tarde rirmo-nos deles, se assim não for, acabamos ainda mais emaranhados...acho eu, sei lá, agora que desliguei isto parece-me claro como água.


Vai sempre para aquela mesinha do café. Aquela onde dá para apanhar Sol, enquanto trauteia o livro desse dia e bebe o seu chá quente, quase tão quente como a lã colorida que tanto gosta de vestir durante o Inverno. Diverte-se a si mesma com aquilo que lê e imagina ler e enche o café com o seu sorriso quando o empregado se aproxima para saber o que quer tomar. É engraçado... cora sempre quando repara que é expansiva quando fala, mas não muda, para quê mudar?

quarta-feira, janeiro 07, 2009

.a rádio girafa/elefante

Quando éramos pequenos, eu e o meu primo, vivíamos na mesma casa, embora em andares independentes e os nossos jardins contíguos, estavam separados por um muro que o meu primo logo aprendeu a trepar e, por sua vez, ensinou-me a trepá-lo também. No entanto vivia em nós a obsessão de criar uma passagem (de preferência secreta e alheia aos adultos) entre os nossos jardins, para que pudéssemos aumentar a nossa mobilidade, e porque isso expressava a nossa vontade de derrubar obstáculos entre nós. Vai daí, cada um no seu lado do muro, pegava no seu martelo altamente especializado (provavelmente uma pedra da rua) e começávamos a nossa acção demolidora, naquele ponto, previamente estudado e escolhido, do muro! Debaixo de um calor abafador lá estaria eu, com o meu chapéu de palha com fitinha côr-de-rosa e o meu primo, provavelmente sem chapéu porque isso é coisa de menina, a embater no muro com uma força hercúlea e, à escala temporal de infância, só passados 60 minutos ou mais (o que em escala temporal real deverá corresponder a 10 minutos), é que começaríamos a dar sinais de cansaço. Chegados a esse patamar, eu seria a primeira a pôr de lado o meu martelo ultra-especializado e feito à medida para o efeito e a abrir o goela: Oh Pedroooooo! e lá iria eu trepar o muro e o meu primo de trombas diria: Fogo,oh Inês, assim nunca mais temos a nossa passagem!!! És sempre a mesma coisa!!!

Passados 3 minutos já estaríamos com a mangueira ligada a refrescar-nos do calor e a fazer autênticas batalhas debaixo do oceano turbulento que iriam acabar comigo a fazer fita, porque não tinha a força do meu primo nem a electricidade de rapaz como ele, para este tipo de brincadeiras....

Num destes dias de brincadeira, chega meu pai a casa com um presente: WALKIE-TALKIES!!!!

Eu e o meu primo esbugalhámos os olhos em uníssono, montámos o estaminé e vimos que estes aparelhos altamente sofisticados davam para: enviar mensagens em código morse, ouvir conversas de outras pessoas que comunicavam por frequência rádio, que imediatamente se tornaram suspeitos de crimes e, mais importante de tudo, falarmos os dois.

Traçámos o plano de imediato:
1. temos que descobrir o que os suspeitos de ladroagem estavam a planear.
2. agora é que ninguém nos põe a dormir. enganamos os nossos pais e vamos para a cama, deixamos passar 10 minutos para que pensem que já adormecemos e depois ficamos a noite a falar!! INFALÍVEL!!
3. nome de código: rádio girafa/rádio elefante!!

Ansiosos para que chegasse a hora de ir dormir, lá foi cada um para casa jantar.

21h00...: Inês, prepara-te para ir dormir!
Nem fiz fita, o que deve ter desorientado os meus pais, fui logo lavar dentes, vestir pijama, pôr o walkie-talkie na mesinha de cabeceira, olhar para o despertador cor-de-rosa da minnie, para contar os 10 minutos, deitei-me na cama... E de repente ouço: PIIIII, rrrrrssshhhhhh, crack, crack, rrrrrshhhhhh, PIIIIIIII RÁDIO ELEFANTE, ROGER!! Ao ouvir aquela panóplia sonora... espero eu que nenhum adulto tenha ouvido... e respondi: RÁDIO GIRAFA, OVER!!!

De repente ouço do outro lado a voz da minha tia...:ÁLVARO PEDROOO, QUE VEM A SER ISTOOOO??

Fomos descobertos...

Passados segundos, a minha porta abre-se: INÊS, MAS QUE É ISTO?????

Os dois em uníssono: é a rádio girafa/elefante...!

Tia: Despede-te da tua prima, então e toca a dormir.
Meu Pai: Despede-te do teu primo, então e toca a dormir.

Tia e Meu Pai: DÁ CÁ O WALKIE TALKIE! amanhã dou-te...

No dia seguinte fizémos daqueles telefones com embalagem de iogurte e fio norte. Assim, nunca fomos caços!

terça-feira, janeiro 06, 2009

.sem título

às vezes pesquiso o teu nome na net, para ver se consigo materializar-te, no entanto tu nunca apareces, apenas nomes semelhantes.

às vezes volto a ter umas mãos pequeninas sobre a janela da sala, de onde podia ver o teu carro a chegar, depois de ter feito os deveres da escola, pois sei que nesse tempo tu entravas pela casa dentro trazendo um furacão de riso para mim, com aqueles teatros que já trazias preparados para nós os dois. ficávamos a rir durante horas e horas... e a mãe ficava a olhar para nós, sem entender muito bem porque nos ríamos tanto, mas tu trazía-la para o nosso riso e de repente, a rir, já tínhamos jantado e eu já tinha que ir para a cama, mas amanhã haveria mais...

às vezes sei que nos rimos ao mesmo tempo e que fazemos as mesmas piadas tontas.
sei, também, que amanhã há sempre mais.

.I wish I didn't have the urge to please

In a normal cold february friday night at downtown champaign I would start the warm up at the esquire (that's a local pub, where the local people usually meet to have some beers) drinking some Corona's and eating peanuts with the spanish crowd. I would wait Fabi's phone call and usually I would meet her at Boltini's to have some cocktails, listen to an europeiiiish kind of music and hang out in a more sophisticated environment (kind of........) and then I would probably stop by Blind Pig to have a beer or two and more likely I would end up at Mike and Molly's (the cool pub...) dancing the old school songs with the usual crowd...

One day, while I was in between one of these bars, my phone rang. it was mike with a sad voice: hey Ines? wassup? What r u up to?

Me: well... I'm at Boltini's. Do u wanna come up?
M.: Well I think I'm not in the mood...
Me: Wassup...???
M.: I wasn't accepted in the Paris University program and the thing I want the most is to get out of here and go to paris.
Me: I'm so sorry... But can't you apply for some other time?
M.: Yeah... but I wanted to go right now.
Me: ...hmm... What can I do for you, you want me to come up to your place?
M.: ok!
Me: I'll call you when I'm done with the bars... Bye!

So I drank a few more drinks (and that's what I did the most in downtown Champaign, to drink lots of alcohol) and when I was finally kind of pleased I told mike, that lived two blocks away from the bars that I would stop by his place.

The wind was blowing strong and it was bringing ice crystals with it. I remember it very well... It cut my skin like small razors and my clothes were ice-petrified! Nevertheless I walked to his place... When I got there, I called him. No answer. I called him again, his lights were on. No answer. And the wind kept blowing and bringing those ice blocks to my clothes, to my face but I kept calling... and he kept not answering.

I went home. Late that night I got a sms: I fell asleep. I'm so sorry, seriously!

I didn't apologize and in fact I thought that it was so rude and outrageous that I never spoke to him again. I knew that he probably drank so much and smoked some stuff that made him fall asleep but god damn it, it was damn freezing!

Now he's in Paris and he wants to come here. He'll come and I don't feel confortable to receive him. In fact I'm concerned with the fact that his need of allienation can be somehow inadequate.

But I have to be the nicest person to everybody so his request pushed me into the place I know the best: to be nice and to please!

Suddenly, he's really coming and suddenly I'm feeling so stupid!